…Pai-Nosso que estais no céu…
…Hoje o tema que me propuseram para reflectir coincidiu ser sobre Ti e fez-me bem. Sugeriram-mo na altura em que quis ir mais uma vez ter contigo para conversar…
…Desta vez não levava um sorriso, desculpa. Levava comigo confusões e incertezas. Naqueles dias em que o sentido da vida parece desalinhado; em que parece que tudo é e não é; em que parece que andamos todos em rectas paralelas e que nunca ninguém nos irá conhecer nem perceber completamente. Que nunca ninguém será certo para sempre…
… Nos dias em que não se cuida quem se ama; nos dias em que, na força da juventude, nos sentimos sós…
…O que leva, Senhor, alguém que amamos a não perceber o sentido com que falamos? O que leva, Senhor, alguém entregar-se sem lutar por algo em que acreditamos?...
…São vários os pensamentos que me invadem. Várias as coisas a que me refiro ao mesmo tempo. Ao lerem-se estas linhas, o sentido que lhes será atribuído dependerá de quem as lê, do tempo e do contexto, e nenhum será de facto aquele que na realidade lhes quero dar. Somos tão humanamente assim. É tão difícil entendermo-nos por completo. Pensamos tanto uns pelos outros sem nos olharmos nos olhos. Porque é que parece que cada pessoa vive uma realidade distinta? Porque é que tantas vezes parece que a nossa se torna tão isolada? Como consegues tão bem entender e acalmar todos os corações? Pai-Nosso…
…Sei que não obterei uma resposta definitiva a estas perguntas. Mas nem é isso que quero. Quero sim, aceitar esta nossa condição e vive-la! E sei que seria no fundo tão simples se seguisse apenas as Tuas regras…
…Mas não surgirão estas perguntas das nossas exigências perante quem nos rodeia e perante quem mais gostamos? Pensava que eram legítimas. É quando nos desencontramos uns com os outros que nos questionamos. Será que temos mesmo de exigir mais para nós? Sei que é importante receber, que só assim poderemos continuar sempre a darmo-nos de coração cheio. Mas recebemos todos de tantos lados! Porque é que queremos sempre de um ou outro em concreto? Se não o esperássemos dessa forma viveríamos em maior harmonia com o mundo e deixariam de nos perturbar tanto estas questões…
…Pai-Nosso, queria dar sempre de mim sem nunca esperar nada em troca, para nunca me sentir só. Queria oferecer-me sempre ao mundo, sem esperar reconhecimento. Queria imaginar a minha vida com sentido, sem que fossem incluídos olhares de admiração e de identificação. Queria que me bastassem sempre aqueles que sei que Tu tens por mim…
…É quando nos aproximamos assim de Ti, Senhor, que nos tornamos confiantes como queres que sejamos e vivemos mais para os outros, para Ti e no fundo, para nós mesmos. Acaba por ser sempre essa a origem das respostas, não é? Nesses dias, percebemos que a felicidade mora connosco, que somos livres e que os nossos dias são somente aquilo em que nós os tornamos. Aos poucos, sendo mais como Tu, percebemos a nossa vocação, aquilo que são os teus desígnios para nós e aquilo que nos enche, mas que não é estático. A cada dia, muda como nós mudamos, na nossa história limpa, e a vida toma sentido por si só e embeleza-se com a nossa diversidade. Mas como conseguir conciliar tanta coisa? Basta-nos saber equilibrar as nossas exigências e aceitar que o caminho dos outros não coincide sempre com o nosso?…
…Hoje fiquei a achar que é essa a resposta e que o equilíbrio se atinge no Teu contexto também, pois o que mais me faz ser feliz e realizado é aceitar-Te. É ter a ousadia de querer ser mais como Tu. Uma ousadia que não é pretensão, que foste Tu a pedir-nos…
…E sei que o caminho não é fácil, mas sei também que felizes não são os despreocupados, nem os desinteressados; felizes são os que lutam, os que sonham, os que dão o que são, que têm dúvidas e que partilham…
…Seguindo o que és, deixo-me levar ao sabor dos sentimentos com confiança, tendo a certeza todos os dias que, a história que escrevo é a mais bonita que podia escrever, com o meu passado, o meu presente, e com o que planeio para o meu futuro. Sempre eu, Tu, e os outros, cada um com o seu caminho até Ti, Pai-Nosso…
(Sábado, 3 de Junho de 2007)