quinta-feira, abril 26, 2007

Posso!...

“Só tão alto quanto o que alcanço
posso crescer,
Só tão longe quanto exploro
posso chegar,
Só na profundidade para que olho
posso ver,
Só à medida que sonho
posso ser.”

Karen Raun


…Só quando crescemos o suficiente para aprendermos a acreditar em nós mesmos com confiança, quando deixam de ter sentido as inseguranças e os medos que persistem em acompanhar-nos, é que podemos sorrir mesmo nos momentos em que estamos tristes e que podemos aceitar com alegria o nosso caminho: aquele que percorremos e em que ousamos. Só esse pode ser o nosso caminho certo. É esse que nos identifica, que nos dá valor e que nos engrandece. É apenas esse o trilho que nos faz ter as certezas e a fé que a nós nos dão a paz interior e a tantos outros parecem inatingíveis e inabaláveis…

quarta-feira, abril 25, 2007

Liberdade…

…Liberdade, temos quando amamos, quando podemos dizer com convicção o que pensamos. Conseguimo-la quando nos dedicamos às nossas causas, quando agarramos com todas as nossas forças e por opção as oportunidades que nos surgem das nossas vivências. Conquistamo-la no dia em que sentimos que podemos mudar o mundo e, mais tarde, quando nos apercebemos que o mundo muda somente por existirmos. Com ela fazemos os nossos novos planos e deixamo-nos voar. De repente, o vento torna-se mais fresco e os gestos mais leves. Pelo ar espalham-se sorrisos juntamente com pétalas que esvoaçam, dançamos mesmo no silêncio, ouvimos crianças e velhos a cantarolar…

…Mas quando nos distraímos, usamo-la, exibimo-la, gastamo-la, até que por vezes a abandonamos. Perdida entre becos, vagabunda e suja. Fraca demais para se deixar alimentar. Por vezes esquecemos que só a vivemos quando perto de nós há quem nos ouça para podermos desabafar, quando perto de nós existe a quem a possamos dar e de quem a possamos receber. Porque existe, apenas quando temos quem nos rodeie, quando temos quem nos ajude a eleva-la, a cuida-la, a faze-la brilhar. Tem sentido, sempre que fluir naturalmente no seu curso, sempre que nos encher os pulmões quando inspiramos e quando, ao expiramos, nos deixar aliviar. É magia, é agilidade, é dedicação, é compromisso, entrega e partilha. Liberdade, é acima de tudo, comunhão…

sábado, abril 21, 2007

Toque após toque …


…Quando começamos, energizamos o espírito, deixamos aflorar os reflexos, reforçamos a nossa atenção e concentração. O olhar permanece quase fixo, mas simultaneamente perspicaz e activo. Aos poucos, pulando sobre os dois pés, agilizando-nos, parece que nos moldamos, que refinamos os nossos movimentos e que lhes damos a liberdade educada que é necessária. Toque após toque, voltamos a sentir de novo a textura, o som, aquela sensação que nos faz querer continuar até quase à exaustão. As cores, os cheiros. Á nossa volta, tudo o resto se torna apenas em contornos. Frente a frente, ou em grupo: os mergulhos para o chão, o esforço, as brincadeiras, as fintas, os risos, o acreditar que se consegue, mesmo quando não é possível. Os movimentos, os corpos, a técnica, a análise e a manha. No pavilhão, em relvados, ou na praia; a ouvir apitos, ou os pássaros, ou as ondas, somos nós e aquela magia de uma bola salva, de uma defesa bem feita, de um potente remate, ou de um serviço directo. O berro, o diálogo, a coordenação em equipa, o abraço…

… Nos momentos em que nem o cansaço faz querer parar, mas que ainda nos pede por mais, nas vezes em que nos entregamos totalmente e em que o vivemos. Naquelas em que acabamos todos juntos sentados, ou deitados no chão com um sorriso rasgado, ofegantes, com aquele prazer enorme do cansaço físico. Nas vezes em que pego na bola debaixo do braço e me vou embora assim, andando com ela. Quando a observo no meu quarto, ou no carro à minha espera, para de novo, recomeçar tudo. Adoro. O meu desporto favorito: o Volei!...

quarta-feira, abril 18, 2007

Todos os sentimentos do mundo…

…Quando nos ocorrem todos os sentimentos do mundo num só instante, junta-se a tristeza ao contentamento, o fracasso à realização, o desânimo à força que nos faz avançar. De repente, deixam de ser antónimos e passam a conviver numa só alma que chora e ri. Preservando a veracidade e a intensidade que os caracteriza, surgem juntos: de mãos dadas…

… Almas solitárias que se entregam pelos sonhos e ao companheirismo com convicção e alegria. Um sorriso sincero e algo que falta dar e receber, mas que não surge. Momentos como aqueles em que se partilham os mergulhos ágeis que sabem a fresco, com o sol quente que amolece e queima…

domingo, abril 15, 2007

O caminho que percorro…

…A luz batia-me nos olhos e fazia com que os semicerrasse enquanto ia para o laboratório, depois de almoçar algo à pressa no final da catequese. Percorria veloz aquela estrada junto do mar que me alarga os horizontes e, do lado de fora, onde não conseguem ouvir a música em que me envolvo, viam-se banhar nas praias todos aqueles que mais demonstram a saudade apertada que já sentimos do Verão, dos gelados e de uma toalha estendida ao sol sob a melodia das ondas. E sem reparar nos minutos que passaram, acabei por chegar, num instante. Era bom que assim fosse todos os dias. O que há melhor do que conduzir quando temos a estrada toda por nossa conta? Quando deixamos o nosso espírito ir a correr e a dançar com a embalagem carro, em vez das outras vezes em que parece que se arrasta cambaleante e impaciente ao som dos motores arranhados dos carros ou do cheio asfixiante dos escapes e da gasolina…

…Quando saí do carro, enquanto os pássaros se ouviam a cantar, dirigi-me para aquelas portas automáticas que me parecem cumprimentar simpaticamente todos os dias, passei a sacola pelo sensor do cartão magnético, e mergulhei então naquele ambiente silencioso dos laboratórios a meio gás durante o fim-de-semana. E é difícil explicar a forma como o tempo avança nesses momentos. Quando o ritmo quase alucinante de todos os outros dias, os corredores cheios, os variados idiomas que normalmente se cruzam, as gargalhadas ou os suspiros, se deixam substituir pela luz ténue e pela tranquilidade, e nos deixam ainda mais à vontade para passar as horas que reservamos para aquele nosso trabalho urgente que queremos despachar. Nessas alturas, sentimo-nos ainda mais em casa, colocamos uma música baixa, sentamo-nos mais facilmente com os pés em cima das cadeiras, espreguiçamo-nos sem que nos vejam e trabalhamos descontraídos com a sensação de que sairemos sempre como nosso dever cumprido, qualquer que seja a produtividade que consigamos alcançar. E por mais estranho que possa parecer, por mais que às vezes pareça chato ter de ir quebrar o silêncio que aqueles corredores devem gostar também de gozar, nestas tardes que se acabam sempre por estender, saio sempre com o ânimo aumentado e com a certeza de mais um passo dado com convicção e paixão…

…Hoje, quando passei de novo pelas portas de entrada, o sol já tinha ido descansar e era a lua que iluminava no regresso o mar. Grupos de jovens passeavam pela extensa arreia branca enquanto brincavam, e mais uma vez eu me entregava a uma das músicas que me faz cantar. Acho que andei o dia todo sem reparar no tempo a passar. Cheguei a casa, comi um prato bem cheio de grão e bacalhau, vi um pouco de tv e termino agora o meu dia a escrever estas linhas que me dão ainda mais satisfação. Nos dias em que sei que o caminho que percorro, seja qual for o destino onde vai dar, é sempre aquele que poderia fazer de mais bonito…

quinta-feira, abril 12, 2007

O tempo certo…

… Às vezes penso como seria se soubesses tudo o que guardo comigo. Se soubesses todas as surpresas que pensei em fazer-te, as prendas que planeei dar-te, ou se lesses as linhas dos sonhos que não cheguei a escrever. Como seria se soubesses as horas que passei a imaginá-las e em como tas pensei revelar: no tempo certo, aquele que se encontra apenas quando se sente…

…Passeios, brincadeiras, gargalhadas, sorrisos. Num mundo nosso colorido, onde aprendemos juntos a voar. Com o vento na cara a bater, os braços estendidos, o horizonte enorme arredondado, e lá ao fundo, um barco embebido da cor azul do mar…

…Foram tantos pensamentos que não te cheguei a contar. Sabias? E devem ser tantos os que não te cheguei a ouvir pronunciar. Quanto o tempo certo de um, não é o do outro, quando se transforma em tempo desajustado. Foi mais um caminho que era já tão certo para mim, mas que não deu para chegar a percorrer, que não deu para chegarmos a percorrer…

… Será que acontecem com toda a gente estes apontamentos inacabados? Eu ainda penso que sim. Ao menos vão-nos tornando mais bonitos também. Existirão quantos sonhos interrompidos que não deixam de ser sorrisos? Quantas grandes surpresas que não chegaram a ser feitas? Quantos gestos que foram contidos? Quantos olhares que não foram trocados, mas que em nós foram vividos? Será que cabem todos em caixas fechadas?...

… São vezes em que nos chegamos a tocar, mas em que, sem querer, nos desencontramos. Vezes que ao mesmo tempo, tanto duram para sempre, como parecem resistir apenas um instante. Que se tornam eternas e que são nadas. Que são sorrisos profundos que se transformam em lembranças e que acabam aos poucos por ser substituídos por outros tantas vezes menos ousados mas mais certos, mais fáceis e tranquilizantes. Antes existam que não cheguem a existir. Nas vezes em que é o tempo certo que nos faz desencontrar…

segunda-feira, abril 09, 2007

Quando subo à Montanha...


…Quando subo à Montanha para estar com Ele sentado a olhar o sol e o mar… que bom é viver, é sorrir, é amizar e amar! São momentos que nos enchem o infinito da alma e que habitam em nós mesmo nos instantes de solidão…

sábado, abril 07, 2007

O Amor é simplicidade também…

…Sim. Há tantos dias em que me proíbo de pensar. Tantos dias em que transformo isso que provavelmente me entristeceria, em nadas, em que finjo que não existe, em que me fecho parcialmente e o guardo escondido no meu interior sem o expressar. Assusta-me também a maneira como o consigo fazer, a forma como o filtro e racionalizo o meu pensar. Eu sei que se transforma assim em algo eternamente sem resolução e que me volta a sobressaltar nas pequenas brisas que mo despertam. Mas como é que se exterioriza e como é que se resolve? Servirá de alguma coisa expressar aquilo que não será possível mudar, aquilo que ficou resolvido, mesmo que da forma veloz com que passou, sem que desse para trabalhar e moldar com as mãos de quem por experiência adivinha antecipadamente o final? Será mesmo suficiente apenas desabafar e deixar que o tempo apague ou substitua todos aqueles sentimentos que guardamos em nós e que nos faziam voar? E porque é que parece sempre que jamais alguém nos imaginaria a sonha-los sem termos de nos expressar?...

…É tantas vezes por isso que sinto que há quem não me entenda, que o vejo nos olhos de quem me rodeia. Porque é custa ver num sorriso sempre um sorriso sincero, porque é que custa ler os sentimentos e os desejos num olhar, mas nunca custa comentar gratuitamente ou extrapolar sentimentos de uma cara fechada? Porque não se parte antes do contrário? É isso que me faz ter uma dificuldade geral em revelar-me nos momentos em que desabafar resultaria, nos momentos em que talvez esperassem aquela palavra que guardo até me procurarem. Como é que é possível desabafar com quem não parte do mesmo princípio, com quem não olha com os olhos inocentes e sem preconceitos? Porque é que isso acontece tantas vezes até com quem nos parecia ser mais próximo, exceptuando tão poucas excepções?...

…E tudo isto porque em tantos momentos não se deixa ao Amor ser o que ele é. Porque Amor é simplicidade também. Tanto aquele que por vezes me faz proibir de pensar e que, não menos vezes, me assusta; como aquele outro, não menos importante, e também necessariamente bilateral, que nos impele a procurar um amigo para conversar…

quarta-feira, abril 04, 2007

Sempre que nos deixarmos dissolver…


”E com um sorriso, o mar respondeu: - Entra nas minhas águas e comprova-o tu mesma! E a boneca de sal meteu-se no mar. Mas, à medida que avançava nas águas, ia derretendo-se, até que dela nada ficou. Mas, antes de se dissolver completamente, exclamou maravilhada: - Agora sei quem sou!”

Anthony de Mello

…Foi precisamente na lembrança do sorriso que em mim deixaram há quase um ano atrás que entrei na carrinha velha, desta vez para o lugar do condutor. Levava 8 adolescentes dos quais pouco ainda conhecia. Liguei-a, entrei na estrada, acenei aos pais que ficavam, e respirei fundo por instantes enchendo-me do espírito certo. Foi então que, sem saber qual a reacção deles, rodei até ao off o botão do rádio. Era ali que queria sentir o retiro deste ano a começar. Apresentei-me, perguntei os nomes deles, pedi para fazermos juntos uma oração e comecei a cantar. E eles, parece que aceitaram! Primeiro mais acanhados, depois ainda envergonhados, mas no final já envoltos, participativos e entusiasmados. A Diana, a Filipa, o Sérgio, o Artur, o Filipe, o Diogo, o Félix e o outro Filipe. Com certeza, os primeiros a conseguirem roubar naquele Sábado de manhã um sorriso animado ao senhor da portagem. Talvez, o primeiro rosto tocado…

…E esta magia foi apenas o início. Mais uma vez, como sempre que pelo menos dois de nós nos juntamos pudemos sentir a mesa aberta, a sinceridade e o abraço. Entre as fotografias desprevenidas e os jogos de introdução, os momentos de reflexão e os de maior descontracção, conseguimos mais do que nos manter unidos, conseguimos criar laços. Laços de respeito, laços de identificação, laços de admiração e de amizade. Só com eles é possível compreender a aceitação e a compreensão que tiveram todas as nossas propostas de actividades e a entrega daqueles adolescentes que não nos pararam de impressionar e sensibilizar, num fim-de-semana tão preenchido e exigente. Só assim posso perceber a nossa coordenação e articulação ao longo dos dois dias e nos temas apresentados, sem nunca nos termos sobreposto e sem nunca pararmos de sorrir. Poderia parecer impossível, não fosse acreditarmos…

…Sabe bem recordar agora vê-los sentados em volta das mesas, deitados no chão a escrever, ou a brincar e a apanhar um pouco do sol que se fazia sentir. Rio-me dos jogos da rabia, das histórias contadas à noite a olhar as estrelas, e do fernezim da altura de deitar do Nuno, do João, do Alexandre, do Mário, do Daniel, do Zé, do Miguel e do André. Sabe bem recordar as suas discussões dinâmicas em equipas e as partilhas que foram fazendo a todo o momento. Sorrio ao ver as fotos da Ana Rita, da Francisca, da Catarina, da Sara, da Mara e da Ana em busca do boné do escondido na mata, entre as “partes de um Todo” que no fundo nos revelámos nós. Sabe bem recordar as suas gargalhadas, as refeições fartas naquele refeitório tão peculiar, as visitas ao convento e as músicas que fomos cantando. Sensibiliza-me relembrar os pais da Joana e do Eduardo que se disponibilizaram ainda para os ir levar e buscar para que pudessem estar connosco também...

…E foram tantos os momentos simples que tornámos especiais por lhes termos dado apenas aquilo que somos de mais bonito. Tantos aqueles que foram enunciados no final do retiro por mais nos terem marcado de uma forma mais especial. Tantos os que iremos sempre recordar. Como disse na altura no final de um dos pontos que achei mais altos no nosso retiro, impossível é não querermos tornar estes momentos constantes na nossa vida, impossível é não nos querermos encher uns dos outros, impossível é não nos querermos dissolver…

…Ao Paulo, à São, ao Bruno, ao Arlindo, à Mariana e também à Joana, obrigado pelo convite, pela vossa sensibilidade, pela confiança que em mim depositam, pelas nossas trocas que me fazem crescer, pelos dons que têm e que deixam florescer e expandir, pelas horas agradáveis que se estenderam até tarde, pela forma como permitem que eu me identifique convosco e me entregue, pelo olhar quente com que me olham e que me faz sentir mais preenchido e sereno…

… No final tenho a certeza de que todos os rostos saíram tocados. Continuará a suceder sempre que nos deixarmos dissolver. No rosto de cada um de nós, parecendo cuidadosamente desenhado por duas mãos de luz, formou-se e permaneceu aquele sorriso especial que nos faz brilhar…