domingo, abril 15, 2007

O caminho que percorro…

…A luz batia-me nos olhos e fazia com que os semicerrasse enquanto ia para o laboratório, depois de almoçar algo à pressa no final da catequese. Percorria veloz aquela estrada junto do mar que me alarga os horizontes e, do lado de fora, onde não conseguem ouvir a música em que me envolvo, viam-se banhar nas praias todos aqueles que mais demonstram a saudade apertada que já sentimos do Verão, dos gelados e de uma toalha estendida ao sol sob a melodia das ondas. E sem reparar nos minutos que passaram, acabei por chegar, num instante. Era bom que assim fosse todos os dias. O que há melhor do que conduzir quando temos a estrada toda por nossa conta? Quando deixamos o nosso espírito ir a correr e a dançar com a embalagem carro, em vez das outras vezes em que parece que se arrasta cambaleante e impaciente ao som dos motores arranhados dos carros ou do cheio asfixiante dos escapes e da gasolina…

…Quando saí do carro, enquanto os pássaros se ouviam a cantar, dirigi-me para aquelas portas automáticas que me parecem cumprimentar simpaticamente todos os dias, passei a sacola pelo sensor do cartão magnético, e mergulhei então naquele ambiente silencioso dos laboratórios a meio gás durante o fim-de-semana. E é difícil explicar a forma como o tempo avança nesses momentos. Quando o ritmo quase alucinante de todos os outros dias, os corredores cheios, os variados idiomas que normalmente se cruzam, as gargalhadas ou os suspiros, se deixam substituir pela luz ténue e pela tranquilidade, e nos deixam ainda mais à vontade para passar as horas que reservamos para aquele nosso trabalho urgente que queremos despachar. Nessas alturas, sentimo-nos ainda mais em casa, colocamos uma música baixa, sentamo-nos mais facilmente com os pés em cima das cadeiras, espreguiçamo-nos sem que nos vejam e trabalhamos descontraídos com a sensação de que sairemos sempre como nosso dever cumprido, qualquer que seja a produtividade que consigamos alcançar. E por mais estranho que possa parecer, por mais que às vezes pareça chato ter de ir quebrar o silêncio que aqueles corredores devem gostar também de gozar, nestas tardes que se acabam sempre por estender, saio sempre com o ânimo aumentado e com a certeza de mais um passo dado com convicção e paixão…

…Hoje, quando passei de novo pelas portas de entrada, o sol já tinha ido descansar e era a lua que iluminava no regresso o mar. Grupos de jovens passeavam pela extensa arreia branca enquanto brincavam, e mais uma vez eu me entregava a uma das músicas que me faz cantar. Acho que andei o dia todo sem reparar no tempo a passar. Cheguei a casa, comi um prato bem cheio de grão e bacalhau, vi um pouco de tv e termino agora o meu dia a escrever estas linhas que me dão ainda mais satisfação. Nos dias em que sei que o caminho que percorro, seja qual for o destino onde vai dar, é sempre aquele que poderia fazer de mais bonito…