quarta-feira, abril 04, 2007

Sempre que nos deixarmos dissolver…


”E com um sorriso, o mar respondeu: - Entra nas minhas águas e comprova-o tu mesma! E a boneca de sal meteu-se no mar. Mas, à medida que avançava nas águas, ia derretendo-se, até que dela nada ficou. Mas, antes de se dissolver completamente, exclamou maravilhada: - Agora sei quem sou!”

Anthony de Mello

…Foi precisamente na lembrança do sorriso que em mim deixaram há quase um ano atrás que entrei na carrinha velha, desta vez para o lugar do condutor. Levava 8 adolescentes dos quais pouco ainda conhecia. Liguei-a, entrei na estrada, acenei aos pais que ficavam, e respirei fundo por instantes enchendo-me do espírito certo. Foi então que, sem saber qual a reacção deles, rodei até ao off o botão do rádio. Era ali que queria sentir o retiro deste ano a começar. Apresentei-me, perguntei os nomes deles, pedi para fazermos juntos uma oração e comecei a cantar. E eles, parece que aceitaram! Primeiro mais acanhados, depois ainda envergonhados, mas no final já envoltos, participativos e entusiasmados. A Diana, a Filipa, o Sérgio, o Artur, o Filipe, o Diogo, o Félix e o outro Filipe. Com certeza, os primeiros a conseguirem roubar naquele Sábado de manhã um sorriso animado ao senhor da portagem. Talvez, o primeiro rosto tocado…

…E esta magia foi apenas o início. Mais uma vez, como sempre que pelo menos dois de nós nos juntamos pudemos sentir a mesa aberta, a sinceridade e o abraço. Entre as fotografias desprevenidas e os jogos de introdução, os momentos de reflexão e os de maior descontracção, conseguimos mais do que nos manter unidos, conseguimos criar laços. Laços de respeito, laços de identificação, laços de admiração e de amizade. Só com eles é possível compreender a aceitação e a compreensão que tiveram todas as nossas propostas de actividades e a entrega daqueles adolescentes que não nos pararam de impressionar e sensibilizar, num fim-de-semana tão preenchido e exigente. Só assim posso perceber a nossa coordenação e articulação ao longo dos dois dias e nos temas apresentados, sem nunca nos termos sobreposto e sem nunca pararmos de sorrir. Poderia parecer impossível, não fosse acreditarmos…

…Sabe bem recordar agora vê-los sentados em volta das mesas, deitados no chão a escrever, ou a brincar e a apanhar um pouco do sol que se fazia sentir. Rio-me dos jogos da rabia, das histórias contadas à noite a olhar as estrelas, e do fernezim da altura de deitar do Nuno, do João, do Alexandre, do Mário, do Daniel, do Zé, do Miguel e do André. Sabe bem recordar as suas discussões dinâmicas em equipas e as partilhas que foram fazendo a todo o momento. Sorrio ao ver as fotos da Ana Rita, da Francisca, da Catarina, da Sara, da Mara e da Ana em busca do boné do escondido na mata, entre as “partes de um Todo” que no fundo nos revelámos nós. Sabe bem recordar as suas gargalhadas, as refeições fartas naquele refeitório tão peculiar, as visitas ao convento e as músicas que fomos cantando. Sensibiliza-me relembrar os pais da Joana e do Eduardo que se disponibilizaram ainda para os ir levar e buscar para que pudessem estar connosco também...

…E foram tantos os momentos simples que tornámos especiais por lhes termos dado apenas aquilo que somos de mais bonito. Tantos aqueles que foram enunciados no final do retiro por mais nos terem marcado de uma forma mais especial. Tantos os que iremos sempre recordar. Como disse na altura no final de um dos pontos que achei mais altos no nosso retiro, impossível é não querermos tornar estes momentos constantes na nossa vida, impossível é não nos querermos encher uns dos outros, impossível é não nos querermos dissolver…

…Ao Paulo, à São, ao Bruno, ao Arlindo, à Mariana e também à Joana, obrigado pelo convite, pela vossa sensibilidade, pela confiança que em mim depositam, pelas nossas trocas que me fazem crescer, pelos dons que têm e que deixam florescer e expandir, pelas horas agradáveis que se estenderam até tarde, pela forma como permitem que eu me identifique convosco e me entregue, pelo olhar quente com que me olham e que me faz sentir mais preenchido e sereno…

… No final tenho a certeza de que todos os rostos saíram tocados. Continuará a suceder sempre que nos deixarmos dissolver. No rosto de cada um de nós, parecendo cuidadosamente desenhado por duas mãos de luz, formou-se e permaneceu aquele sorriso especial que nos faz brilhar…

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Eles que venham ler o que tu escreves...

Picita

6:31 da tarde  
Blogger Gervasio said...

Antes de mais,"welcome back"!

Gosto bastante da sensibilidade que tens para escrever e da forma como descreves esses momentos.

Fizeste-me relembrar os [bons!] momentos em que eu estava do outro lado. Espero que lhes fique na memória a magia destes encontros, assim como ficou na minha.

Um grd abraço

10:32 da tarde  
Blogger Frei Bruno said...

É verdade Tiago, como seria se todos nos deixássemos dissolver. Obrigado pela tua reflexão e partilha

1:16 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Ó gervásio, vai pró ginásio!

11:30 da tarde  

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