terça-feira, junho 30, 2009

Espelhos…

…Lá fora ouço os passos. Passos que passam, tantas vezes diferentes, tantos deles desconhecidos. E como o som dos passos, as experiências, as que conhecemos e repetimos, e aquelas outras que nos levam por novos caminhos que se associam a novas escolhas. Tento abstrair-me de todos os sons. Preciso de me rodear, neste momento, de todas as realidades que um dia já conheci. Colocar-me junto de cada uma delas, frente a frente, com os olhos fixos, quase sem pestanejar, profundamente. Que nesse instante seja o olhar a falar por si, aquele que expressa o mais íntimo grito ou o sorriso que usaríamos para nos exprimir. De pé, com o tronco bem apoiado sobre as pernas ligeiramente afastadas, com qualquer outro traço do meu rosto completamente isento de expressão. De repente, como se fosse eu o maestro daqueles espelhos que à minha volta não param de girar e com os quais a cada instante estabeleço esse olhar pleno e eterno, vejo a minha história contada. Não pela voz de uma criança, mas pela mão trémula de alguém que percebe cada pormenor daquilo que nem eu mesmo saberia contar. Envolto num espaço que deixo de saber delimitar, como se nada em meu redor tivesse mais importância, torna-se meu o ritmo com que giram e fixo, de olhos bem atentos, aquele em que me vejo forte mas também frágil, sorridente mas também introspectivo, bonito mas também desarranjado. Nesse mesmo, em que tantos rostos se tornam claros à medida que o contemplo. Olhos que pousam sobre nós o olhar, e assim, envolvendo-nos, nos fazem como que de repente parar de girar, olhar em volta, e reconhecer cada pormenor do que nos circunda. O nosso lar, o nosso caminho, a nossa escolha, o nosso eu que é talvez não eu, mas nós. Ouço os passos e sorrio…

domingo, junho 28, 2009

A comunhão à mesa…

…O mesmo que nos dá a vida e nos faz sentir bater o coração. Repetir-vos em mim, eternizar-vos, relembrar-vos com este sentimento que as palavras não conseguem acompanhar, mas que nos une. Pelo menos só isso, a minha vida toda, saberei fazer. Porque me enchem a cada dia, com cada olhar e em cada abraço, a minha alma de amor. Hoje convidei-vos para estrear a mesa de minha casa…

terça-feira, junho 23, 2009

Um terno perdão…

…A vocês quero olhar profundamente nos olhos e sentir, apenas, motivos incalculáveis para um abraço de comunhão cada vez mais pleno e intenso. E por isso mesmo, nas minhas limitações e porque poderei ser sempre melhor, peço-vos, um terno perdão…

segunda-feira, junho 22, 2009

Dindi…

…Sorrio, conheço-te há três minutos ou há trinta? É que quando te olho, revejo quem mais me inspira e orienta os meus dias. Ouço-te falar, fascinado pela mesma entrega mútua, por um toque que se sente sem se tocar. Novamente o entendimento, a confiança, a aposta, a comunhão. Vivo o princípio, quando era apenas a palavra, e o final, na eternidade…

…Volto a sorrir, conheço-te há sete anos ou há setenta? Nos dias em que mais ninguém entenderia o que eu quero dizer quando me exprimo. Olhas-me com o olhar mais puro que alguma vez senti. Procuro a fonte, e encontro o projecto que nos une. Procuro e encontro, tantos pequenos nadas, tantos grandes tudos. Gosto de ti, como de mim…

quarta-feira, junho 17, 2009

Espreito-te...

…É precisamente nas alturas em que tudo adquire sentido, em que cai sobre mim o entendimento e a clareza, que mais pequeno me sinto. E espreito-te timidamente com um sorriso: como se no ser mais frágil me tornasse; aquele que no mesmo instante chega voando ao cume da maior montanha…

terça-feira, junho 16, 2009

Podemo-nos sentir amados sem um olhar…

…Há dias na vida em que nos temos de afastar, nos temos de recolher. Por vezes não é fazer o que mais nos apetece que tem mais sentido, que nos torna mais coerentes. Vivemos rodeados e alegremo-nos com as maravilhas que vemos em cada rosto, mas saibamos ama-los também na sua integridade e no seu espaço. E respeitemo-nos também a nós, à nossa condição, às nossas fragilidades. Mesmo nessas alturas, que tenha sentido para nós a Caridade: pois podemos amar também sem estar presentes e podemo-nos sentir amados sem um olhar. Sentimos antes aquele que se sente por dentro e completa. Na oração, no trabalho, na nossa liberdade que o é apenas em Cristo, por vezes na cruz. E saibamos que somos templo de Deus que a nossa individualidade é objecto do Seu amor. Fazemos sentido juntos, mas alimentemos com cuidado cada membro do corpo…

segunda-feira, junho 08, 2009

Eu não sei parar de te olhar…

…Arrepia-me. Sinto ilimitados os seus contornos. Sinto como se todo o universo coubesse com cuidado na palma de uma mão. Como se todas as estrelas que se vêem brilhantes no céu tivessem lá sido cuidadosamente colocadas num gesto meigo. Como se a possibilidade de existir o vazio fosse a certeza mais correcta de algo que nos completa e que dá sentido a toda a criação. Como se conseguisse num pequeno passo chegar a todos os cantos sem esforço. Sinto a alegria enorme que se expressa numa lágrima, no milagre que é o sentimento pleno. Ouço a melodia comovente que nos ensina a nunca parar de olhar e de cuidar. Sinto-me do tamanho do maior planeta, passando como água por ente os poros de uma fina membrana. Sou cristalino, transparente, sou se várias cores e escapo como uma corrente de ar veloz que ao raspar a pele nos faz os pêlos eriçarem. Num instante, para toda a eternidade, percebo o mistério. Olho com os olhos brilhantes como se emitissem luz e sento-me para que o espírito se possa libertar e deixar voar sem se preocupar com o que me possa acontecer. Estou protegido. Respiro junto de todo o universo…

domingo, junho 07, 2009

Com a mão direita sobre o teu ombro…

"A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade."

Carlos Drummond de Andrade

…Hoje, foi mais um dia de entrega. Simbolizei-o com a mão direita sobre o teu ombro. Canto, deixo-me envolver neste dia que poderá tocar tantos corações profundamente. Rezo por ti, para que te deixes envolver por este Espírito que nos transforma. Rezo por mim, para que te consiga sempre transmitir isto que sinto e que me faz olhar com amor para o mundo. Agradeço cada um dos sorrisos que trocamos…