quinta-feira, março 29, 2007

Apontamentos recentes…

“Andamos no mundo
Quase todos
Como se fôssemos
Desconhecidos uns dos outros;
E eu não quero
Que haja desconhecidos;
Quero o amor,
Quero a mesa aberta,
Quero a sinceridade e o abraço.”

Sebastião da Gama


…Este é um dos tantos poemas que guardo comigo nos meus livros de apontamentos e que releio indefinidas vezes no silêncio em que, no final de cada dia, me procuro abrigar no meu quarto, entre as fotografias que o forram e os objectos que guardo e que me acompanham pelo significado que têm e pelos momentos que me relembram. Penso tantas vezes nele, mas, infelizmente, nem sempre com o olhar de ânimo e de incentivo com que ele merece ser sentido. Por vezes, procuro-o e leio-o cansado, triste e desmotivado. Um pouco da forma como me tenho sentido ultimamente, nos últimos meses…

…São momentos em que o silêncio, em vez de nos purgar, nos magoa. Momentos em que o silêncio se transforma em solidão, em que nos sentimos pequenos e desamparados, em que sentimos um nó na garganta, mas evitamos chorar. Momentos tristes que surgem quando, de repente, os nossos sonhos se parecem transformar em ilusões, quando nos parece que ao mesmo tempo todas as flores murcham e o céu e o mar se tornam menos azuis. Quando sentimos que aquele mundo que edificamos em nosso redor com tanto empenho - aquele único em que conseguimos ser absolutamente nós, completamente puros e autênticos, e em que conseguirmos sorrir e brincar livres - se desmorona por não sentirmos o ânimo e a presença, habitualmente tão constantes, de quem nos ajuda a manter fortes os seus alicerces. Quando tudo isso acontece sem sabermos como, rápido demais para o conseguirmos evitar. De forma tão brusca que não sabemos contornar…

…Nessas alturas, sinto os dias a passar por mim velozes e não consigo ser o que sonho nem o que escrevo. Em meu redor nada parece da minha cor azul e, perdido, nem de mim eu sei. Longe, vejo-me sem o meu sorriso, fico horas a fio a pensar no que não merece ser pensado, e a ainda mais horas, horas sem fim, a trabalhar nos meus projectos que, esses sim, dependem somente de mim para avançar…

…Mas hoje, hoje parece que houve algo que voltei a sentir. Algo que preenche com todos os tons de azul o meu pequeno mundo e que faz parte do que sonho; aquilo que cada vez mais me move e comove: sorrisos. Sorrisos profundos. Sorrisos sinceros e com ânimo, sorrisos rasgados, sorrisos partilhados, sorrisos na cara uns dos outros. Sorrisos que nascem dos momentos inesquecíveis com que tento rechear a minha vida e, de uma forma que pretendo ousada, também a vida de quem de perto me rodeia. Aqueles mesmos sorrisos que dizem que me caracterizam, que dizem que me fazem trazer sempre um brilho no olhar, que me fazem sentir leve e voar. Aqueles sorrisos que usualmente me conseguem fazer passar um ano inteiro a procurar mais poemas, a escrever mais textos e pensamentos, a tirar mais fotos e a fazer mais montagens…

… Não sei se foi somente a mudança de ares, o vosso entusiasmo, as músicas cantadas ao som da viola, ou o redescobrir-me em novas pessoas. Sei que, neste momento, enquanto escrevo e revejo as fotos que tirei, apetece-me continuar a cantar. Sei que, neste momento, me sinto mais eu, me sinto mais com Ele, e leio o poema que hoje escolhi com esperança e convicção. É por isso que hoje sinto uma vontade enorme de escrever. Para cumpri-lo. Para celebrar o amor, a mesa aberta, a sinceridade e o abraço. Desta forma posso evitar que, pelo menos desta vez, nos cruzemos uns com os outros sem nos tocarmos. Queria que soubessem que transformaram o meu dia e agradecer-vos a todos por este dia especial, cheio de pequenos significados que se tornaram grandes. É a magia dos pequenos gestos: crescem e aproximam-nos…


B-R-A-V-O! BRAVO!

(Sábado, 3 de Junho de 2006)

sábado, março 17, 2007

Na primeira folha...

…“Apontamentos de uma história limpa” são um novo projecto que pretendo abraçar. São a oportunidade que me quero dar de um dia mais tarde poder voltar a sentir o que sinto, de poder voltar a sorrir com o que hoje me faz faze-lo, de poder também tocar mais perto aquilo que actualmente não consigo alcançar. São uma mão aberta para partilhar, o meu olhar mais sincero, momentos que importam guardar. São como o brilho dos olhos escuros de uma criança que nos fita timidamente e que nos pede ajuda para avançar. São como o salto livre de uma cria de águia que aprende a voar…

…”Apontamentos de uma história limpa” não são momentos inesquecíveis de sorrisos profundos. São a busca que deles faço, são o que com eles aprendo. São o antes e o depois. Os sentimentos mais maduros, as escarpas inclinadas e as rampas que nos fazem lançar… Não são apenas olhares, não são apenas flashes. São as linhas escritas, são os textos rasurados, são o entusiasmo de terminar de escrever uma folha em branco sem reparar no tempo a passar… São o que actualmente sinto vontade de expressar, longe do que há um ano tinha pensado que iria começar. Caminhos que se criam, momentos que surgem talvez para nos testar…

…”Apontamentos de uma história limpa” são o reflexo de um momento bonito que me propus viver no início deste ano, em Janeiro, quando escrevi o texto que vos deixei anteriormente. Quando longe dos medos que me envolviam, arrisquei no que sentia e recebi mais um sorriso profundo, terminando outros apontamentos mal resolvidos. Desde dessa data que tenho este espaço construído e é agora, juntamente com os anjos que me rodeiam, no azul profundo do céu, que levanto a cabeça, fecho os olhos, e sinto na face a aragem fresca que me envolve, me percorre, me enche os pulmões como se fossem a alma e me faz respirar aquilo que Ele quiser de mim…