sábado, julho 03, 2010

De mãos dadas...

…Olho para ambas as mãos. Que têm elas feito? Deixo-as descansar um pouco. Os meus dedos assumem curvados a sua posição mais confortável. Tenho justificado a saúde que têm? Sinto algo estranho, como se eu fosse apenas um dos corpos que escolheste para viver. Fora de mim, tudo teria o mesmo sentido, tudo assumiria exactamente a mesma forma. Procuro comprometer-me para além dos meus limites. Há momentos em que quase me perco, não sabendo em que morada devo repousar. Ouço ao longe uma música que toca chamando por mim e sigo sem saber qual o caminho exacto. Apenas sei que anseio chegar sem que dêem sequer pela minha presença, para ficar simplesmente a escuta-la. Nesse momento estarei no mesmo sítio em que fui lançado; estarei nos mesmos locais onde um dia fui tocado; estarei contigo, percorrendo de mãos dadas todo o universo de aventuras que temos para viver. Permanecemos juntos para voltar a mostrar que são possíveis milagres, que é possível o amor vencer, que me posso esvaziar para nos tornarmos um só. Um só em pensamentos, um só em gestos, um só na vontade recíproca do bem-querer, do caminhar contínuo na direcção do infinito. Deambulo para além de mim, é relativo o que sente o meu corpo quando nele tocam. Sou estrangeiro. Há dias em que me procuro apegar aos pequenos fragmentos do ter no momento presente, mas apenas nos poderemos completar na eternidade. Volto a olhar as minhas mãos. Depois exercito-as, abrindo-as o máximo que consigo. Encontro nelas dom. Aquele mesmo que me permite através delas assumir compromissos e viver coerentemente o ideal…

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Façam as mãos o que fizerem - e partindo do princípio de que procuram conjugar o silêncio e o crepúsculo - elas acabam por ser "apenas" o prolongamento da alma.

Às vezes perdem-se, mas a memória jamais se separa das circunstâncias que lhe deram aquele cheiro dos frutos sãos!...

3:55 da tarde  
Anonymous Paula Sofia said...

O ideal…como vivê-lo de forma coerente?
Há dias que compreendo sem qualquer esforço as orientações do coração, o agir pela liberdade dos outros e até pela minha, outros dias não, questiono-me e procuro respostas, muitas vezes nem sei se as encontro ou se me contento com algo.
E os sentidos? Quanta contradição e dúvida originam?
Desperta. É uma ordem. Em frente, é para lá que deves seguir, existem tantos companheiros na tua caminhada, não vás só, eles precisam também da tua certeza. Mas que alma vaciladora.
Afinal o que queres? Seguir só, abandonada, ou rodeada de sonhos, de motivações, desafios?
Que luta. Encontro finalmente uma paz de espírito que inspira confiança, sorrisos e bem-querer.
Terá sido encontrada, finalmente, a forma de viver coerentemente o ideal?
Não sigo só nem completa, sigo na construção e na procura desta perfeição, que como dizes, “apenas nos poderemos completar na eternidade”.
Será possível encontrar essa eternidade aqui? Quem sabe? Quanto mais próximos estivermos dela, mais próximos estaremos da perfeição.
Não quero seguir só, quero seguir de mãos dadas, e não quero mãos perfeitas, quero mãos que como as minhas, na humildade e no serviço do saber amar, procuram esta eternidade.

2:56 da tarde  

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