A preto e branco…

…Depois de um dia quente de Verão, na ilha Azul, sem que me saíssem da cabeça todas aquelas aventuras que lá vivemos e que nos fizeram tanto sorrir, como que em gesto de agradecimento por aquele sentimento eterno que nos enche e torna livres e leves, que nos faz emocionar e dessa forma entregar e render à amizade, fechei os olhos para tentar saborear melhor tudo o resto. O barulho das ondas naquela praia onde o sol ao pôr-se se reflecte prateado no mar e nos permite distinguir apenas silhuetas pretas entregues ao horizonte; a actividade das cagarras agitadas a caçar, gritando da sua forma tão peculiar; o calor da areia preta e da montanha que ao emanar nos aquece, enquanto a aragem se torna fresca e nos traz a lua enorme que se ergue mesmo por trás de nós…
…Com a calma e a atenção necessárias, comigo, um ano depois, juntou-se toda a Natureza e juntaram-se todas as recordações. Misturadas com as ondas, as aves e as sensações, ouvia e sentia as nossas brincadeiras e jogos, as nossas conversas e emoções, tantas vezes partilhadas naquele espaço a que tantas vezes me reporto. Naquele momento, para mim, estávamos de novo juntos, os três, naquele local que nos uniu para sempre…
…De olhos fechados, com o cabelo solto e sentindo o vento na cara, sentado na areia na posição mais confortável que encontrei e com o coração leve, misturei as cores do fim do dia com o preto e branco doce e intemporal das recordações. Os refúgios que fomos nós a colorir…
(Desenhado a lápis de carvão pela minha mãe)