domingo, junho 27, 2010

Dar mais…

“Se a tua voz trouxer mil vozes para cantar,
vais descobrir mil harmonias belas
que ao céu hão-de chegar.
Fica mais rica a alma de quem dá,
chega mais alto o hino de quem vive a partilhar.

Tu tens que dar um pouco mais do que tens,
tens que deixar um pouco mais do que há,
se vais ficar muito orgulhoso – vê bem,
tens que te lembrar:
és o grãozinho de uma praia maior,
e deves dar tudo o que tens de melhor,
pr’avaliar a tua Alma: há leis!
Tu tens que dar um pouco mais do que tens!

O tempo vai e de um rapaz um Homem vem.
Sem medo vê o teu destino:
vai em frente p’ra servir o Bem.
É tão profunda a mensagem que chegou.
São tão seguras e largas as pontes qu’Ele deixou.”

(Autor desconhecido)

…Relembro-me dos últimos dias e das experiências que tenho feito. Reconstruo com carinho os sorrisos nos rostos de quem me acompanhou. Em meu redor, há mil vozes que seguem comigo a cantar. Somos tantos os que nos reunimos num mesmo abraço sincero. Surgem na minha cabeça, como num filme, tantos amigos com quem tenho construído a minha história, que entregam a cada dia a sua vida por mim. Como pode caber fechada no meu coração a alegria de ser convidado pelo meu primo Pedro para ser seu padrinho de Crisma? Como posso conter a felicidade de poder acompanhar o Bruno, meu parceiro de caminhada, a dizer o seu Sim eterno àquelas que procuro que sejam também as raízes sobre as quais me ergo?...

…Mais uma vez, senti-me ser testemunha de novas almas apaixonadas que se entregam. Há um novo brilhar nos olhos de cada um. E juntos recomeçamos a cada dia. Comprometemo-nos. Seremos almas apaixonadas que apostam nesta caminhada de quem vive para dar um pouco mais do que tem…

…Os dias passam e, aos poucos, tornamo-nos portadores de uma esperança que nos continua a fazer ser diferentes. Há um algo mais que nos aconchega e nos faz sentir unidos. Temos cada um o nosso caminho distinto, mas reencontramo-nos no decurso das nossas vidas para as celebrarmos. Porque há sempre um olhar que O revela e que tem de ser trocado, um abraço que volta a aproximar dois corações que se amam como expressão do Seu Amor. E ecoam suavemente na minha cabeça as palavras que me imprimem movimento: dar um pouco mais, sempre um pouco mais. Se Ele o quer, eu quero-o também…

…Ao som de uma música suave, no final de cada dia, juntamo-nos para rezar sob uma luz ténue. Temos, no centro, uma pequena cruz e permanecemos reunidos, neste pedaço de terra, num momento de céu…

quinta-feira, junho 17, 2010

Caminhamos juntos…

…Sentámo-nos por diversas vezes formando pequenas rodas, partilhámos momentos de silêncio, falámos das nossas experiências, cantámos, rimo-nos, rezámos, cruzámos os nossos olhares e, unidos por este algo mais, relançámo-nos ao desafio de reescrevermos com as nossas vidas o Evangelho…

…Fizemos naqueles dias a experiência de começarmos a viver juntos o paraíso aqui na terra. O Pai Eterno devolveu-nos cada coisa que Lhe colocámos nas mãos. Os nossos sorrisos expressavam-no. Foi essencial ter podido contar com cada um de vós ali presente…

…Os temas que abordámos permitiram-nos relembrar e reforçar o sentido da nossa caminhada. Sentimo-nos, cada um de nós, escolhidos, e mais cientes daquilo que nos caracteriza. Relembrámo-nos que conseguiremos melhor continuar toda esta herança que nos foi deixada, se seguirmos de olhos colocados em Jesus Eucaristia, na Palavra que nos dá a vida, e em cada um dos nossos irmãos. A diferença desta revolução que pretendemos fazer face a todas as outras, é que nos foi confiada por Deus…

quarta-feira, junho 16, 2010

Ser Gen, uma geração nova!…

…Queridos amigos, deixem-me que vos comece por saudar um a um. Agradeço-vos com um sorriso a forma como, ao longo deste ano, me têm acolhido entre vós e me têm permitido caminhar convosco, lado a lado, no compromisso de vivermos a cada dia mais ao jeito de Jesus Cristo…

…Esta experiência que temos feito, tem sido para mim uma oportunidade única para reavaliar cada aspecto concreto da minha vida. Sei que tenho crescido na qualidade do amor que me sinto chamado ser. Hoje conheço-me melhor, tanto nas qualidades que Ele me oferece como dom, como nas fragilidades que tantas vezes me custam transportar. Aprendi a olha-las com novos olhos, descobrindo que é ao amar o Jesus abandonado que a nossa cruz se torna fácil carregar. E é então que o caminho que queremos percorrer deixa de poder ser outro. Passamos a viver no esforço de tentar fazer coincidir a nossa vontade própria com a vontade de Deus. O que me mais me faz sentir seguro, é depois o amor recíproco. É saber que, na unidade criada com cada um de vós, me sinto acompanhado d’Ele em cada momento desta minha nova vida. Há, sem dúvida, algo mais que me inunda e revoluciona, que me desestrutura para me voltar a construir mais sólido, e que confirma a presença de Jesus no Meio de nós…

…Não vos digo que esta minha nova etapa tenha sido sempre fácil. Sabemos todos que o arrumar das prateleiras levanta sempre um pouco de pó. Há dias em que me sinto mais cansado, frustrado pela minha incapacidade de Lhe responder com um Sim mais completo, angustiado pela consciência que tomo das minhas limitações perante a vida, e quase me esqueço de transportar comigo aquilo que me faz ser livre para amar. Sinto-me incapaz, até me relembrar que o que me faz novamente forte é unir-me ao Pai na minha pequenez, é viver na mesma simplicidade de Maria desolada, sempre pronta. Continuarei a sentir-me, todos os dias, imensamente amado por Deus…

…Rezo-Lhe e agradeço-Lhe. Pego convosco agora, de coração cheio, na mesma bandeira que outrora nos foi entregue. Sei que seremos um só…

sábado, junho 12, 2010

Tusca…

…Víamos sentados mais um magnífico pôr-do-sol que nos fazia pensar nunca ter visto nenhum outro que fosse assim tão bonito. Até que ponto permanecem fiéis as imagens visuais que guardamos nas nossas cabeças? Lentamente, o sol desaparecia no horizonte, pintando-o em tons de laranja e vermelho. Não havia uma única onda no mar. Encostado a ti, procurava retratar na minha memória todo o ambiente que nos circundava. Fechava por instantes os olhos, tentando reconstruir tudo o que voltaria a ver quando de novo os abrisse. Éramos, naquele instante, um só com toda a criação. No céu, desenhava aves que dançavam ágeis ao sabor do vento; na relva fresca, colocava os bichos-de-conta que constantemente se tentam desembaraçar; e, em nosso redor, borboletas que esvoaçavam atrapalhadas pela brisa que se começava a levantar…

… O mundo continuava, à nossa frente, no ritmo do qual fazemos parte, mas sem que o pudéssemos efectivamente mudar. Sentíamo-nos também nós imersos, muito mais como participantes passivos do que como espectadores. E quantas são as coisas de que nem nos apercebemos? Aqui e ali, escondem-se os coelhos nas tocas; milhares de espécies de peixes, tentam camuflar-se o melhor que conseguem debaixo do azul do mar; envelhecem as árvores seculares. Há em nosso redor um todo que respira e que se manifesta em nós, fazendo-nos sentir a perfeição e o amor…

…Agradeço hoje contigo e de forma especial, o dom da criação, essa perfeição e esse amor que nos faz sentir e que nos impelem. Quase me assusta poderem escapar-me as imagens visuais que guardo, mas aceito, sorrindo, este ritmo que não poderia ser eu a controlar. Posso, em cada instante repeti-las, procurando-as novamente. Posso voltar a desenhar na minha memória os pequenos fragmentos de harmonia que um dia me levaram, também eles, a construir o que sou. E, de novo, posso colocar no céu, as aves; no mar, os peixes; ou, no meu colo, quentinho, o ronronar daquela criatura meiga que me acompanhou durante dezoito anos da minha vida…