sábado, agosto 22, 2009

Saboreando…

…Entregámo-nos ao sabor do tempo. O sol brilhava no céu, vestíamos roupas frescas e confortáveis e sentíamo-nos unidos pela mesma vontade de querer amar e sorrir. Seguíamos em direcção ao nosso primeiro destino. Tinham-me enviado um dia antes uma mensagem a pedir que passasse por lá. Senti nela aquela voz terna que pedia que lá fosse apenas para estar um pouco, para matar saudades, para que pudéssemos, num abraço, tranquilizar o bater forte do coração que surge entre tantos sentimentos e emoções que a partilha e a comunhão nos proporcionam. Fomos recebidos da melhor forma. Numa feição simples, quase tímida, mas também cheia de encantamento e de um brilho cintilante no olhar. Era o brilho que só surge no reencontro. Aquele que me relembrou um olhar simples e desprendido; uma vida ainda curta, mas marcada por uma partilha absoluta de tudo, até talvez do amor e do carinho que tantas vezes necessitamos sentir um pouco só para nós enquanto crescemos. Disse-me que tinha preparado a Eucaristia, que iria cantar o salmo. E assim foi. Sem tirar os olhos do ambão para não se desconcentrar ou rir, ou talvez porque já era suficientemente ousado entregar-se a cantar, permitiu-nos ouvir aquele salmo no carinho enorme de Deus…

…Festejava-se à nossa volta na medida do tamanho das crianças que entretanto conhecemos. Fiz um amigo novo e bonito com um passou bem divertido, roubei um sorriso àquele que era mais rezingão, empurrei a cadeira perra na roda direita da frente que transportava uma outra alma leve e feliz como as restantes que parecia nem sequer se questionar sobre o porquê da sua limitação. O corneto de limão que comemos fazia-nos arrepiar, e ainda relembrei a excelente técnica de sugar o gelado pela parte do fundo de um cone de bolacha e que nos deixa a cara lambuzada e doce. Entre brincadeiras, prometeram ao senhor Padre que se iriam portar bem, enquanto eu pensava que gostava o prometer também, amando assim despreocupadamente…

…Mas a nossa viagem não era para terminar ali. Havia um outro encontro que tínhamos combinado num outro sítio um pouco mais afastado. Um outro que nos viria a falar ao coração. Chegámos como de costume atravessando um grande portão que se abre sem se ver ninguém, estacionámos o carro e dirigimo-nos para a porta principal. Surgiu o primeiro rosto que nos perguntou ao que íamos e que nos dirigiu para um sala onde pudemos aguardar um pouco, e foi enquanto aproveitávamos este momento oferecido para nos pudéssemos preparar, que nos chegou um outro sorridente, aberto e cheio. O rosto que esperávamos. Não a conhecia mas houve algo que nos uniu. A primeira palavra que me dirigiu foi a mesma que tinha escrita na minha t-shirt: serenidade. Sem que eu soubesse, àquele momento seguiram-se outros em que gostei de rever caras conhecidas e foi-nos proposto celebrarmos de novo a Eucaristia. Apenas sorrimos. No espaço em que fomos acolhidos todas se vestem da mesma forma pois todas são igualmente amadas aos olhos de Deus, mas cada uma tem o seu rosto único tal como cada uma é única aos olhos do Senhor. E envoltos, em ambiente de oração, foi-nos proposto viver cada dia de nossa vida, saboreando. Foi-nos proposto que apurássemos cada um dos nossos sentidos para que a possamos viver em plenitude. Nesse final de tarde falámos de sonhos, e em particular daqueles que, quem sabe, nos levarão para fora um dia, para onde possamos espalhar aquilo que nos faz ser profundamente felizes sem precisarmos de mais nada do que os instrumentos que é Ele que nos dá. Em mim, ficaram mais definidos novos contornos de um caminho que quero continuar a seguir…

…Neste dia sorri, provei, olhei, toquei. Maravilhei-me com pormenores, deslumbrei-me com certezas. Abracei. Abracei o presente que é o dia de hoje. Abracei o futuro que podemos tornar o amanhã…

2 Comments:

Blogger fratello sole said...

Às vezes arrepio-me ao ler o que escreves...

Leio e releio...

É tudo tão profundo e intenso...

Abraço

A Paz!

12:24 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

… Esse modo de viver!
Já foi um sonho meu, já foi um grande ponto de interrogação na minha vida, já foi um dos grandes caminhos colocados à minha frente e dos quais tive que optar.

No presente, resta-me o sonho. Quantas vezes imagino como seria se tivesse optado por esse outro caminho, que me faria de igual modo muito feliz, mas muito mais desprendida, muito mais dos outros e de muitas mais pessoas, não estaria fixa a nenhum lugar mas seria desse mundo e por ele andaria consoante a vontade do sopro de Deus.

Pergunto-me hoje, porque é que mesmo amando quem preenche a minha vida e os meus dias, consigo identificar lá no fundo uma sede e um pequeno vazio deixado por este caminho que optei não seguir, o caminho que me permitiria ser e ter só e simplesmente os instrumentos d’Ele, uma sede e um vazio que vou saciando e preenchendo com o testemunho de vida e felicidade daqueles que o tomaram como seu, e que deixam meu coração feliz e doce para continuar a abraçar e a amar este caminho que é meu, mas que também é d’Ele, pois tento fazer da minha caminhada, uma caminhada para Ele.

Abraço fraterno, sorrisos profundos…
Paula!

10:47 da manhã  

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