sábado, agosto 01, 2009

Enigmas...

…É simultaneamente tão estranho e tão sublime. Alguma vez sentis-Te o cheiro da maresia ou o sabor de uma pedra de sal? Adoro deitar-me molhado numa rocha quente e sentir-me aquecer, enquanto ouço o som das aves e o enrolar das ondas. Fascina-me o contraste do verde intenso das montanhas com o azul profundo do mar. Penso no mistério que é este contacto com o que nos rodeia e que me fascina. Penso nestes sentidos que ao desenvolvermos, nos permitem estabelecer este elo com toda a Tua criação, com todo o mundo que nos ofereces para que o possamos descobrir, para que nos possamos orientar mantendo sempre viva em nós a pureza e a doçura, a ignorância e a simplicidade, até ao dia em que, ao vermos do outro lado, deixaremos de olhar para nós próprios. Que mistério é este que nos torna animados e providos de sentidos? Que limiar é este que supera as reacções químicas e que as transforma em vida? Que segredo é este que faz ver, e pensar, e amar? Este dom que nos deixa envolver e mergulhar, que nos deixa sorrir e chorar, e nem assim nos impede de, ao renunciar de todos os sentidos, os continuarmos a viver na nossa capacidade de sonhar. É que ao sonhar, verei de olhos fechados, sentirei o macio das estrelas, saborearei o fresco de um amanhecer, sentirei o cheiro da tranquilidade e ouvirei a melodia que nos fará ter a certeza de que poderemos ouvir os pensamentos que de outra forma se perderiam nos recantos escuros do universo. Chorarei com o que em mim não me deixa conter de feliz. Sorrirei com aquilo que aparentemente me deixa triste. Viverei aqui, no céu, onde desenrolas a Tua obra. São engraçadas as coisas que, na nossa humanidade, nos podem afastar daquilo que em nós é sopro divino. Não somos nós feitos do mesmo amor com que foram feitos os anjos, com os quais nos aproximamos apenas na entrega e nos sonhos, pois conseguiremos então estar presentes mesmo sem sermos vistos, sentir mesmo sem usar os sentidos, entender a relação e a entrega? Penso na memória e no esquecimento. Penso no que sentimos ao pensar, no que sentimos ao lembrar, no porquê de não sentirmos o sangue correr nas veias ou tudo aquilo que a pele nos separa do mundo exterior. Temos todo o potencial do mundo sendo efemores, temos a eternidade na pureza e somos como bolas de sabão que pairam livres sob o sopro criador de Deus. É simultaneamente tão estranho e tão sublime. Sentimos o coração saltar por um toque, a Tua voz que nos fala baixinho e que nos esclarece grandes dúvidas, conversas que nos aproximam da plenitude. Diz-me, os anjos são feitos de uma matéria ainda mais sólida do que nós? É por isso que conseguem trespassar cada coisa, da mesma forma como nós fazemos com o nevoeiro, sem o magoar?…

(Inspirado em “O enigma e o espelho” de Jostein Gaarder)

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

…Que fascínio, que grandeza, que poder incalculável. Brutal é poder sentir, é ter a certeza de que os sentidos existem e transformam-nos, os sentidos transmitem-nos os desígnios de Deus expressos nesta natureza nua de preconceitos, de farsas e de maldade. Tudo é uma mensagem, tudo é diferente aos olhos de quem olha com amor, por natureza somos seres diferentes, logo e à partida com olhares diferentes sobre o mundo, olhares que se completam. Para ti, o deitares-te molhado em cima de uma rocha quente e sentires-te aquecer, enquanto as aves se expressam e o mar deixa suas ondas soltas nas rochas, pode ser causa de felicidade, de te deixares sair de ti e ir ao encontro de Deus, enquanto que para mim, isso são coisas que fazem parte do meu ser ilhéu, um ilhéu livre, independente, todo rodeado de mar, que colhe em cada hora do dia o sabor das marés, que sente a diferença que existe ao virar-se para um dos quatro pontos cardiais e tem a certeza que a força das ondas e da brisa e o cheiro trazido pelo ar, de cada um deles serão sempre diferentes ao mesmo tempo. Já para mim o que mais me fascina é poder sair da água salgada, com esta a escorrer pelo corpo, e poder, sem qualquer coisa que possa impedir, deixar-me cair suavemente sobre muitos, milhares, milhares de milhar grãozinhos de areia negra e quente, que parecem saltar com o calor, deixar que estes se colem com a água, e sentir o poder do calor que cada um transporta, e olhá-los, como se eu fosse um deles, com o seu tamanho e poder, pensar que todos juntos temos esta mesma função, este mesmo poder e agradecer a Deus por isto. Agradeço a Deus também por saber, que aquilo que sinto, aquilo que tu sentes, aquilo que nós sentimos, tudo junto se completa. Quero saber ser feliz com os sentimentos dos outros e que os outros saibam também ser felizes com os meus.
Será que isto é sentimentos de anjos? Anjos não são poderosos e sábios? Será que não percorremos um caminho em direcção a eles? Será que os anjos já não foram humanos como nós e parte da sua inteligência, não foi adquirida e cultivada enquanto humanos? E os nossos sorrisos não serão também um enigma, aliás, quantas vezes nós somos aquilo que o nosso sorriso transparece? São perguntas que também me faço, são respostas que também procuro.
=) profundos, Paula!

10:50 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home