terça-feira, março 23, 2010

Tal como és, tal como sou…

…Olho-te, quase envergonhado, e pergunto-me quantas formas, texturas e tamanhos já te dei. Avanço agora mais um passo na tua direcção ao mesmo tempo que tiro as mãos dos bolsos e as coloco sobre a cara. Desculpa-me. Sento-me por um pouco à tua frente abraçando os joelhos contra o peito; não trago absolutamente nada comigo. Ressentes-te também nos tropeções que dou no meu caminho? Hoje consigo perceber melhor as vezes que te ignorei, as vezes em que cheguei mesmo a fingir que não existias. Sabes, só posso mesmo rir-me. É que pensei realmente que podias, se fosse da minha vontade, se eu fizesse um grande esforço, tornar-te mais leve, mais suave ao tacto, ou mesmo mais pequena. E percebo agora o quão ingénuo fui por tê-lo pensado. Posso dizer-te uma coisa? Tu assustas-me tanto. Quando me deparo contigo, encho-me de defesas, finjo-me forte, chego a pensar que sou superior a ti. Mas volto a deparar-me novamente com a incapacidade que me dá não te reconhecer. Não é ignorar-te que resolve, não é deixar-te para trás, não é tentar transformar-te. Sei que foste feita à minha medida. Então, deixarei de andar cabisbaixo, deixarei de me queixar, olharei para ti pelo que és, e chamar-te-ei pelo teu nome. Sim, pelo teu nome: minha Cruz…

…Levanto a cabeça. Reconheço-te até de olhos fechados. Tens o peso adicional que te conferi, tens as marcas que me foram feitas, e magoas. Sim, magoas tanto. Quase que incapacitas. E é por isso que disfarço, que finjo, que ignoro. És muito mais do que as circunstâncias por vezes adversas, és aquilo por que me sinto tentado e perseguido, és tudo o que impregnado em mim, me dificulta seguir a vontade de Quem me ensina, não a abandonar-te, mas a pegar-te. Perceber-te, querer-te, torna-se então o único sentido. Aceitar-te, carregar-te, é agora sem qualquer dúvida a única forma que me permite ser eu próprio. Será esse o esforço que me levará ao verdadeiro amor. E ai sim, só assim, estarei pronto na hora da verdade. Deixarei até de magoar quem de mim se rodeia nos momentos da minha fragilidade, da minha incapacidade do autêntico amor. Tenho tanta sorte, nunca sequer me cheguei a sentir exposto ou humilhado, e escondo-me tantas vezes por trás de uma falsa humildade. O que sei eu do sentido da dor e do sofrimento humano? Levanto-me novamente. Posso agradecer-te teres-me sido confiada? Escorre-me uma lágrima pela cara que limpo assim que a consigo apanhar. Sou amado assim mesmo. E tu fazes parte. Dou mais um passo em tua direcção. Olho-te, respiro fundo, abraço-te…

1 Comments:

Anonymous Paula Sofia said...

... e deve-mos carregá-la com muito amor, do modo como sabemos, se cairmos ter forças para levantar, retomar o caminho de olhar fixo no horizonte, abstraindo-nos das coisas que nos vão esbarrando de lado e ultrapassando as que vêm de frente, sim apenas as que vêm de frente, porque as que vêm de frente são verdadeiramente sinal de crescimento e são dirigidas para nós, as que vêm do lado, são as que nos querem fazer mudar de direcção, mas se o fizermos como voltaremos a olhar o horizonte?

2:17 da tarde  

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