terça-feira, junho 17, 2008

A Severa…

…Foi a oportunidade de viver algo diferente, de conhecer novas pessoas, de me entregar e permitir desenvolver a postura, a voz, a expressão dos sentimentos. Foi um dos meus sonhos guardados, foi mais um tópico cumprido da minha lista…

…Para mim teatro sempre foi algo único e mágico. A possibilidade de deixarmos transbordar de nós a nossa visão do mundo, de nos soltarmos, de deixar aflorar as reacções que às vezes não temos, os sentimentos que por vezes não sentimos. A forma de contar uma história com o nosso próprio corpo e de, ao faze-lo, torna-la real. A forma de, ao criar, nos deixarmos enriquecer pelo que, com toda a sua carga, humaniza o mundo e o faz ser…

…É manifestação, é versatilidade, é entrega, é palavra, é locução, é concentração e silêncio, é falar alto e projectado, é viver num ritmo diferente onde o tempo demora outro tempo a passar. É viver mais uma vez intensamente a história da qual já sabemos o fim, e construí-lo de novo. É deixarmo-nos soltos, é descobrir o corpo e a alma e utiliza-los de outra maneira, é autoconhecimento. É sentir os bastidores e cheirar ao que nos rodeia…

…O silêncio soa profundo, os passos ouvem-se na madeira do palco, os nervos afloram. Surgem onde anteriormente foram os risos e os sorrisos dos ensaios, a excitação de criar algo novo. O descanso dos minutos anteriores sentados nos bancos da plateia, substitui-se pela vontade de entrega, pela carga da representação. Anseia-se contracenar com quem, na vida real, se vivem outras histórias…

…E tudo recomeça: o aquecimento de voz, as orações, os hábitos do costume, as roupas e as maquilhagens. As portas vão abrir, as luzes vão apagar, a música de entrada vai começar! Um frio na barriga surge e, sem o largar, a adrenalina boa de estar em palco…

…E, sem que a possamos parar, a história tem de continuar. Ganha a vida dela! As deixas seguem-se, os imprevistos acontecem, ouve-se o riso do público que nos motiva e faz sorrir nos bastidores, trocam-se olhares cúmplices nos momentos em que sentimos as personagens tomarem parte de nós, nos pormenores que tornam única cada apresentação…

…No final os abraços, o ânimo dos amigos que foram para nos ver. O café que se combina para não se deixar morrer por ali aquele sentimento que surge ao deixar transbordar algo, mau ou bom, que deixamos nascer de nós…

…Obrigado pela oportunidade. Obrigado por me deixarem vive-la desta minha maneira. Obrigado por me terem deixado brincar tanto, pelo que me ensinaram, pelas amizades que ficaram mais fortes e pelas amizades fortes que surgiram, que já me marcaram e que irão ficar. Obrigado…

(Hoje apeteceu-me relembrar…)