O verde e o azul…

…E dou por mim a pensar no porquê de me sentir diferente. Sentado com o vento a bater-me na cara, no cimo de mais uma montanha, à minha frente estende-se o verde dos campos, o azul do mar. Fixo aquela linha longínqua com atenção. Saberei um dia porque me prende o olhar? Aos meus pés passa o tempo e nele o que dele faço. Passam as minhas motivações, passa o que me dá força, passa aquilo em que torno os meus dias. Sem pressas, revejo-o. Revejo o tempo passado, o que fui, o que me tornei. Revejo-o, e enquanto o faço, nasce em mim um sorriso que me aquece, que me transcende, que sai de mim enquanto o tento abraçar e o sinto passar por entre os meus dedos, suave. O sorriso profundo que esboço por tantas vezes já ter subido e descido uma montanha, por saber o que é mergulhar no azul profundo, por poder correr nos verdes campos. Um sorriso que esboço por poder ensinar o que sei, por poder transmitir o que sinto. Porque o que me diverte é tudo isto e ainda poder trabalhar, poder uma noite dar-te explicações e na noite seguinte preparar uma actividade pensando em ti. Porque o que me diverte é comprometer-me durante anos, é assistir ao teu crescimento, é poder dar-te a mão sempre que precisares, é emocionar-me quando me contas que algo que sonhavas muito finalmente aconteceu, é poder dar-te um abraço e saber que nesse instante podes sentir tudo o que eu sinto também: esta paz, esta certeza de algo que é cumprido em cada instante porque sim, porque resulta do que é sincero e autêntico. O que me diverte é passar contigo uma tarde em tua casa, é conhecer as pessoas que te são especiais, é apaixonar-me pelas pessoas novas que conheço, como tu. É combinar contigo hoje, e só porque sim, uma viagem que nos leva para longe, e lá longe, conhecermos novas culturas, novas paisagens, novas montanhas. Tons diferentes de verde, de azul. O que me faz sentir tão feliz é teres tantas faces, tantos rostos amigos, tantos que sinto que me querem tão bem, que me olham com carinho. Isso faz-me sentir completo. Sei que daqui a uns instantes irei levantar-me com esta paisagem gravada na minha memória e poderei descer mais esta montanha a correr de braços abertos. Como em cada passo largo da descida embalada da corrida, entregar-me-ei de novo a esta aventura que é estarmos entregues a nós mesmos. Neste caminho tão próprio e solitário que podemos percorrer acompanhados. Desta forma que em o gosto de percorrer, que me faz sentir diferente…