quarta-feira, fevereiro 24, 2010

Fora de muros…

…Houvesse maneira de se quantificar a entrega de tantos que dispuseram a sua vida em Deus. Naquele momento senti toda a unidade da Igreja, senti a imensidão de toda a obra que é feita por Amor. Dissolveram-se todas as distâncias. Não me separava mais nem o espaço, nem o tempo: estávamos ali todos juntos, reunidos em oração. Sentia-me como um pequeno ponto apenas, inundado do entendimento maior do Amor. Deixei de me conseguir conter. Entreguei-Te as minhas lágrimas enquanto me olhavas o rosto. Estávamos frente a frente, rodeados de cada um dos que foram escolhidos por Ti por todos os tempos como fiéis depositários do teu Amor. Olhando o alto, via-Te, mesmo através de qualquer obstáculo. Deixaste-me todo eu envolvido, todo eu arrepiado. Tinha ali mesmo, ao meu alcance, o túmulo de São Paulo que mudou também a minha forma de Te olhar e sentir. Inacreditavelmente juntos, à distância de um toque, partilhávamos o mesmo chão, desejando o mesmo céu. Ajoelhei-me. Foi talvez das memórias mais sublimes e felizes da minha vida. Acompanharam-me nesse momento, todos os anos do passado, todos os anos do futuro. Todos os que se permitiram um dia sentir-Te desta forma que nos transforma. E ali permaneci, pedindo-Te que sejas Tu o amestro. Faz de mim, Senhor, em cada instante, a Tua vontade. Faz-me sorrir e sofrer, faz-me ter sentido, faz-me conferir sentido, faz-me…

(Serão sempre curtas as palavras para descrever o que senti
na Basílica de São Paulo fora de muros)

segunda-feira, fevereiro 22, 2010

O projecto para o Mundo Unido…

…Éramos ao todo cerca de 650 jovens vindos de 32 países espalhados por todo o mundo, trazíamos connosco as nossas diferentes características culturais, professávamos credos distintos, falávamos nas mais diversas línguas. De dia 19 a 21 de Fevereiro, encontrámo-nos em Castel Gandolfo, em Itália, para reflectirmos sobre a via para a construção de um Mundo Unido…

…Chegados à estação de comboios, subimos com as nossas malas até ao cimo do monte. Estava prestes a começar este encontro que nos aproximou a todos por um ideal comum: o Amor. Foram vários os temas de que falámos e muitas também as partilhas que fizemos. Apercebemo-nos que qualquer que fosse a nossa religião, quer fossemos cristãos, judeus ou muçulmanos, e até mesmo se não acreditássemos num Deus que nos ama e cuida, partilhávamos todos a mesma regra de ouro, a de fazermos aos outros aquilo que gostaríamos que nos fizessem a nós. Unidos por esta certeza, meditámos sobre a arte que é Amar, sobre o esforço que temos de fazer para conseguir concretiza-la diariamente. Apresentámos as nossas dúvidas e falámos das nossas maiores dificuldades, de todas as vezes em que parece que quase não saímos do mesmo lugar neste percurso que pretendemos seguir; mas sentimos ser comum o desejo de darmos a cada dia tudo de nós para o conseguirmos. Mais do que isolados, mais do que cada um por si, sentimo-nos ali, naquele espaço e no mundo, todos juntos, prontos a reiniciar a cada instante, olhando o nosso redor com novos olhos…

…Esboçando sorrisos entre os olhares que se cruzavam, relembrámo-nos da importância de amarmos a todos como filhos de um mesmo Pai, sem deixarmos de amar cada um em particular, começando por aquele que no momento presente é o nosso próximo. Reflectimos sobre o quão importante é amarmos também o nosso inimigo, tal como Jesus nos ensinou. Amar mesmo aquele que mais se afasta de nós pelas suas ideias e gestos. Poderemos ser nós, em cada instante, a substituir cada atitude que nos magoa e perturba por um acto de amor. Só assim, alargando os horizontes do nosso coração, poderemos também viver o amor recíproco…

…Queremos propor a cada homem, em cada situação concreta, que queira ser o primeiro a Amar. É apenas dessa forma que, qualquer que seja o local do mundo onde nos encontramos, qualquer que seja a língua que usamos para nos expressar, poderemos iniciar a grande revolução que será vivermos nestes moldes a verdadeira Unidade. Teremos de fazermo-nos um, pelos outros…

…Das nossas simples partilhas, da percepção da grandeza de cada pequeno gesto, apercebemo-nos da importância que tem assumirmo-nos como fundamentais para este grande projecto. É essencial centrarmo-nos neste ideal, é essencial colocarmos a inteligência ao serviço do Amor. Ele chega-nos gratuitamente de Deus e de tantos que nos rodeiam. Aprendamos a saber perder também, sempre que o tivermos de fazer em nome dele. Deixemo-nos pois de nos sentir auto-suficientes. Existe uma relação profunda entre a dor e o Amor que não poderemos desvincular. Só juntos poderão ter sentido mutuamente, mesmo quando não temos capacidade de o perceber. A cada instante, de novo, podemos voltar a fazer uma só coisa: substituir cada dificuldade por actos de Amor…

…Quanto nos despedimos sentíamos já a saudade de nos deixarmos, mas também a grande missão da partida. Continuaremos todos juntos sempre que conseguirmos viver este nosso propósito. Afinal de contas, somos os jovens para o Mundo Unido!…


sábado, fevereiro 20, 2010

Roma amor…

…Uma doce capicua que foi um prazer descobrir. Espalhemos também nós esse mesmo Amor em cada uma das nossas cidades!…

quinta-feira, fevereiro 18, 2010

Passeando em Roma…

…Imerso na história de que me sinto fazer parte. Sim, foi assim que me senti em Roma. Vagueando pelas ruas, na graça da companhia de quem mais sinto ter consciência da importância da unidade em cada aspecto concreto, descortinava o barulho das aves e do rio por entre os demais que nos invadem a toda a hora, como em qualquer outra cidade. Mais do que tocar neste ou naquele pormenor que a compõe, senti-me tocado. Não fui mais eu que nela caminhei observando as suas cores e contornos; não fui mais eu que entrei nas suas basílicas, que observei os seus frescos, que rezei nas suas igrejas ou visitei as suas fontes nas praças que se estendem para serem preenchidas; foi ela que me percorreu, me observou, me olhou com carinho e me rezou. Fez-me olhar para dentro, fez-me sentir de novo. Inundou-me da graça que a obra exprime, que a arte nos sugere, que o tempo nos demonstra e que se concretiza no Amor. Das ruínas romanas que não são mais do que aquelas que também guardamos em nós, até ao Vaticano, que surge do nosso esforço no caminho que percorremos, cheio de marcos, símbolos e questões; surgiu-me a convicção de que muito mais do que esquecidos, percorremos juntos este caminho que nos leva à valorização do mais alto valor humano. Passeando em Roma, ao mesmo tempo nos sentimos pequenos e infinitamente grandes, mergulhados no mistério que foi o mesmo que, em tempos, permitiu que tantos construíssem tantas coisas belas numa cidade só…

terça-feira, fevereiro 16, 2010

Encontrei-te…

…E parti mais uma vez, sozinho, como se fosses tu a lembrar-me que em qualquer momento da minha vida terei de ser sempre eu a dar o primeiro passo. Na verdadeira liberdade que me dás, terei de ser eu a fazer consciente as minhas escolhas. Seguia com o coração calmo e sereno. Continuo a achar estranha esta paz profunda que me fazes sentir, mas ainda assim procuro aceitá-la sem me questionar. Confio plenamente em ti e sinto a cada dia que me conduzes também, envolto do teu ideal de amor. Afastado dos condicionalismos que me trazem as minhas limitadas formas de expressão, sei que me olhas autenticamente como sou. Sei que vês o esforço que não chego sequer a demonstrar e até o afecto que tantas vezes não sei fazer o meu próximo sentir. Olhas-me assim, como se fosse eu um presente sem embrulho e sem nenhum mistério por desvendar, ao mesmo tempo que nos teus olhos brilha o entusiasmo pelas possibilidades que me conferem os dons que me dás…

…Os dias passam e os ponteiros não param de girar. Preservam incapacidades profundamente humanas que tenho enraizadas em mim. Incomodam-me, é certo, mas fazem-me também, na dor, encontrar como refugio o teu amor. Então, de repente, nada temo, nada tenho medo de perder e nada guardo comigo. Nem lembranças, nem orgulhos, nem sorrisos que não os do Amor. Sou nesse instante eu, igual a todas as pessoas do mundo. Sou nesse instante eu, capaz de amar a todos por igual no amor gratuito que não exige nem cobra, não espera e se completa por si só. E todas as cores se misturam numa só. Disfarçam-se lentamente umas nas outras até àquele momento em que as deixo de distinguir sem que o saiba delimitar aos meus olhos. No mesmo que é a eternidade e em que mergulho em ti…

…Sim, há uma cruz que transporto. Tenho a graça de a saber identificar. Tenho, à tua imagem e semelhança, o dom de a poder carregar e de poder Ser a única coisa que nos unifica: o Amor. Sorri novamente na minha tranquilidade. A viagem correu bem e senti-me bem também no espaço que me acolheu. Havia uma música no ar que pairava. Aproveitei para comer uma massa e para ler mais um pouco de um livro que me levou a novos recantos da minha alma tão profundos como belos. Passadas poucas horas, abraçaste-me mais uma vez no rosto de quem nestes dias me esperava. Vim contigo, e encontrei-te…

segunda-feira, fevereiro 15, 2010

No Seu amor…

…Cravado em mim
Forra o mais íntimo do meu ser
E sem que eu tenha qualquer poder de decisão
Acaricia-me
Fazendo-me sentir amado
Sem me conseguir controlar
Sorrio
Os meus olhos brilhantes
Observam com ternura as suas feições
Arrepia-me
Pela forma que usa para se exprimir
Pela forma como organiza o seu pensar
Vivo
O que pensava jamais ser possível
Que não tem hora nem espaço
Que é concreto
Em cada segundo
Em qualquer lugar

Nos dias em que o meu sonho se tornou real…

sábado, fevereiro 13, 2010

A espantosa realidade das Cousas…

“A espantosa realidade das cousas
É a minha descoberta de todos os dias.
Cada cousa é o que é,
E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra,
E quanto isso me basta.
Basta existir para se ser completo.

Uma vez chamaram-me poeta materialista,
E eu admirei-me, porque não julgava
Que se me pudesse chamar qualquer cousa.
Eu nem sequer sou poeta: vejo.
Se o que escrevo tem valor, não sou eu que o tenho:
O valor está ali, nos meus versos.
Tudo isso é absolutamente independente da minha vontade.”

(Alberto Caeiro)

…Sorrio, há tanto que não temos sequer de explicar. O som dos pássaros e o chiar da água não dependem do contexto em que são inseridos. Simplesmente o são. Sinto-me também eu como eles. Sou apenas tudo o que sou, sem que tenha de ser justificado. O que faço, o que escrevo, o que sinto, são a forma mais completa como me proponho a caminhar. A importância de cada gesto, dependerá dos frutos que fará crescer. Não dependem sequer de mim. Sou, apenas…

sexta-feira, fevereiro 12, 2010

Sento-me agora…

…A minha respiração ouve-se ainda ofegante. Sinto-me como se tivesse acabado de correr sem fim, tentando apanhar algo que é impossível agarrar. Talvez não possa mesmo chegar a tê-lo. Olho-me e por instantes vejo-me desorientado. Peço a mim mesmo a força que tenho de ter até quando o cansaço parece querer tirar-ma. Porque é que tantas vezes o horizonte não nos oferece a oportunidade de descansar? Respiro fundo. Quero deixar-me entregar ao amor; quero que a história que escrevo permaneça limpa. Existe intrínseca no homem uma incapacidade grande de a cada instante agir por amor. Porque é que tantas vezes julgamos em vez de escutarmos? Porque é que tantas vezes nos esquecemos que a justiça só é possível se dermos a cada um o que precisa, e que toda a gente precisa de ser olhada com amor? Por acaso o mal que sentimos poderá residir noutro lado para além dos nossos corações? Coloco as mãos sobre a cara e sinto molharem-me as lágrimas que não consigo evitar. É importante olhar cada dia com novos olhos, recomeçando a cada um a caminhada que nos é proposta sem guardar nada no coração. Entreguemos cada sentimento bom ou mau. Um dia teremos de perder tudo…

segunda-feira, fevereiro 08, 2010

Olhando para as grandes telas…

…Os dias tornaram-se um pouco mais complicados quando percebi que olhávamos para os quadros que ambos gostávamos de comentar de uma forma tão distinta. As cores e as formas que víamos eram as mesmas, discutíamos talvez as mesmas sombras ou determinados efeitos de luz, mas levavam-nos a sonhar de diferentes formas. Sem que soubéssemos, quando parávamos frequentes vezes diante deles e por longas horas ficávamos em silencio sentados a observá-los, eram distintos os pensamentos soltos que nos faziam sorrir, eram diferentes os locais onde nos levavam a viajar. Inevitavelmente, com o tempo, acabámos por largar as mãos que uníamos enquanto lado a lado permanecíamos. Hoje em dia costumo regressar sozinho à mesma sala em que continuam expostos. É incrível a forma como nos levam sempre a descobrir novos tesouros que guardamos dentro de nós. Sei que sentirás isso também. Os caminhos que percorremos são agora distintos, mas há uma presença que continua. Guardo comigo, naquele leve serenar, a certeza de que alguns deles foste tu, na tua forma diferente, que me ajudaste encontrar para que eu possa continuar a descobrir os novos mundos que eles me revelam…

terça-feira, fevereiro 02, 2010

O Profeta…

“O Mestre respondeu, dizendo:

- Nascestes juntos,
juntos ficareis para sempre.

Ficareis juntos
quando as asas brancas da morte
dispersarem os vossos dias.

Sim. Ficareis juntos
até na silenciosa memória de Deus.

Mas que haja espaço na vossa comunhão;
e que os ventos do céu
dancem no meio de vós.

Amai-vos um ao outro,
mas não façais do amor um empecilho:
seja antes um mar vivo
entre as praias das vossas almas.

Enchei cada um o copo do outro,
mas não bebais por um só copo.

Partilhai o pão;
mas não comais do mesmo bocado.

Cantai e dançai juntos, sede alegres;
mas permaneça cada um sozinho,
como estão sozinhas as cordas do alaúde
enquanto nelas vibra a mesma harmonia.

Dai os vossos corações;
mas não a guardar um ao outro.
Porque só a mão da Vida
pode conter os vossos corações.

Mantende-vos juntos,
mas nunca demasiado próximos:
porque os pilares do templo
elevam-se, distanciados,
e o carvalho e o cipreste
não crescem à sombra um do outro.”

(Khalil Gibran)

…Deixo poemas nos dias em que os sentimentos passam por mim a correr revoltos e entre o fluir do tempo não encontro o espaço suficiente para deixar a minha alma exprimir-se por palavras. Há poemas que poderíamos ter sido nós a escrever…