terça-feira, novembro 24, 2009

Sem que estivesse a contar…

…E sem que estivesse a contar, encontrei-te num dos corredores do hospital de Santa Maria. Mantinhas o teu ar calmo, apesar do fardo pesado de quem tem um familiar a precisar de cuidados. Ao veres-me, e de uma forma tão genuína, transitaste do ar mais pesado com que me falaste das tuas novidades, para aquele outro leve e sereno que, com um brilho nos olhos, me fez encontrar em ti aquela criança que se entrega feliz. Relembraste-me de como a Fé nos dá a força que traz a certeza do amor. Era pois tempo de dares, ouvindo. E contei-te agora eu as minhas novidades, cheias do ar fresco que tenho recebido nos meus dias e que me faz sorrir. O tempo voou, é verdade, e seguimos depois os nossos caminhos rumo aos afazeres que tínhamos programados, mas gostei de te rever e de falar contigo. Parece que quase nunca o tínhamos feito. Ao mesmo tempo sinto-te perto e presente, com o mesmo ar calmo com que te encontrei. Unimo-nos num outro recanto acolhedor e especial que nos continuará fazer caminhar em frente nos projectos a que fomos destinados. Continuarei a dizer com um sorriso que sou teu afilhado, e tu, sei que sim, a vir a este cantinho em que escrevo estas palavras para me conhecer melhor…

segunda-feira, novembro 23, 2009

Peças soltas…

…Acredito que cada peça será colocada no seu lugar. Mesmo quando não percebemos a ordem das coisas, quando olhamos atentos, descobrimos vezes sem conta a harmonia que nos faz quase sem querer largar o sorriso que temos contido…

domingo, novembro 22, 2009

Somente por Ti…

…Hoje, voltaste a levar-me para um pouco mais longe. Era de manhã cedo quando entrei no carro e parti rumo a Évora na abertura de espírito que me faz sempre reencontrar-Te. Consegues sempre surpreender-me, pois ias comigo na viagem ao mesmo tempo que já lá estavas. Sorri-Te. Não demorei muito até que o Nelson aparecesse para o abraçar. Iríamos começar o dia celebrando a Eucaristia na paróquia que ele ajuda a dinamizar. Apercebi-me do ambiente, voltei a cumprimentar-Te, e chamaste-me mais uma vez para ir proclamar a tua palavra. Sabe bem olhar do ambão para toda a assembleia. Como conseguias Tu só com um olhar dizer a todos que os amavas? Li pausadamente como de costume. É bom saborear as palavras e dize-las, não olhando para elas, mas em frente, como se já as soubéssemos decore. Deliciei-me com a proximidade que o senhor Padre parecia conseguir de Ti. Um homem de oração como me disse o meu amigo. Pois havia momentos em que o achei mais perto de Ti do que de nós; e isso não nos distancia, mas chama-nos a aproximar. No final da Eucaristia, os sorrisos que vi em vários rostos, completaram as festas de boas vindas. Como se não fosse nem só eu, nem só Tu a agradecer a minha presença…

…Seguiu-se o almoço, uma visita completa ao seminário de Évora e longas partilhas e conversas sobre o que mais nos tem tocado e levado ao teu encontro. Voltei a comungar contigo na Eucaristia da tarde em que relembrámos a importância das escrituras que nos ensinam que há um reino dos céus onde todos podemos habitar juntos concretamente e agora. Ouvi cantarem-Te ao som do órgão. Sentimos o fresco da noite. Eu e o Nelson jantámos contigo num jogo de perguntas e respostas que nos levou a revolucionar a nossa estrutura e a sedimentar as nossas bases. Os medos, as certezas, as dúvidas e as convicções. A Fé que nos faz crer que muito nos amas e que nos acompanhas, que nos queres completos, despidos de qualquer máscara para a nossa entrega ao teu projecto concreto de amor. E como se tivesses tudo pormenorizadamente planeado, mais tarde, com a nossa companhia da noite calma e sabedora, soubemos rever a importância da nossa formação e educação para que melhor nos saibamos entregar…

…O tempo voou, apesar dos nossos passos calmos, e já tarde despedi-me do Nelson com um grande abraço e um olhar profundo. Por mim voltaria todos os Domingos para passear e crescer. Agradeço-Te os dons que nos dás, a abertura nas partilhas e a amizade sincera e plena. Sei que ele ficou contigo também, em oração, juntamente com tantos outros nossos irmãos. Regressei com as mesmas músicas que para lá nos acompanharam. Um dia, estive contigo em terras alentejanas. Obrigado…

sábado, novembro 21, 2009

Um simples retrato do amor…

…Dois meses. E o tempo passa no seu ritmo que não se impõe nem se torna ausente. Aprendemos com cada nova experiência a melhor amar e a entregarmo-nos num projecto concreto de felicidade. Por vezes somos mesmo levados a descobrir as maravilhas que são as coisas novas que descobrimos em nós. Fazem parte de quem somos, mas estão algures guardadas à espera do momento em que o toque as desperta. E, simbolizando-as, não é que dei para desenhar também? Em jeito de desafio, longe de pretensões, um simples retrato do amor…

quinta-feira, novembro 19, 2009

Ouço…

…O sabor doce e suave das músicas que nos inspiram e nos levam a redescobrir pequenos lugares perdidos no nosso eu. Quantas vezes não nos tocam por dentro, invadindo-nos e enchendo-nos? Quantas vezes não nos transportam ao ritmo melódico com que nos surgem e massajam? Há músicas que são expressão da alma; vozes que nos arrepiam e nos permitem extravasar. É que correspondem aos sentimentos que guardamos e a uma forma única de os exprimir que nem sempre temos facilidade em encontrar. Dão-lhes corpo e força para que os possamos agarrar e expor, para que neles possamos então crescer. Deixo-me levar. Acariciar as palavras faz-nos atribuir-lhes o seu valor concreto. Rezo-as, experimento as suas diversas dimensões, salto de uma para outra em equilíbrio e imagino-me, também eu, a elevar ao céu a minha voz…

quarta-feira, novembro 18, 2009

Eu e tu…

…Hoje tento trabalhar até um pouco mais tarde, talvez até à hora de me ir deitar, e tu estás aqui comigo, na tranquilidade das cores que nos aconchegam. Estás a pintar aguarelas na bancada da cozinha que tem as portadas abertas para a sala, e sempre que olhas em frente, vês-me aqui sentado a escrevinhar. Olho-te também e sorrio. É que a música continua a tocar e sinto em mim uma paz que me faz querer fazer-te sentir toda esta felicidade que não consigo guardar. Ainda há pouco parámos para jantar. Eu comi num prato verde e tu num laranja, os dois comprados na feira da Luz. Eu comi pescada e tu, o resto do arroz. Sentámo-nos no chão, também com um copo de água, e utilizamos apenas dois garfos. Conversámos e rimos, falámos de nós e dos nossos amigos, e de quando em vez, espreitámos o futuro. Os gatos estavam como sempre sentados perto de nós, a meter-se connosco e a ronronar. Somos nós mesmos e sabe bem este tempo eterno em que voamos sem precisar de tirar os pés do chão…

sábado, novembro 14, 2009

Dás-me a Tua mão?

…Senhor, dás-me a Tua mão? Ando tantas vezes perdido. Desorientado entre as tantas coisas que nos envolvem e confundem. Tenho-Te comigo, trago-Te em cada um dos meus dias, mas ainda assim, é tão difícil deixarmo-nos ser inteiramente teus, da forma como Te sinto profundamente. Não apenas naquelas coisas que estamos acostumados a fazer em Teu nome e que sabemos que nos trazem conforto e carinho, mas radicalmente, em tudo. Como posso Senhor, deixar que os meus olhos transbordem constantemente o teu amor? Como posso Senhor, fazer com que o meu sorriso seja sempre fonte da Tua energia e da Tua força? Dizes-me que fui feito inteiramente para amar. Como posso aceitar essa missão sem falhar nas minhas limitações? Com todas as minhas forças, como todo o acolhimento, quero olhar para cada rosto com todo o meu respeito e admiração, com a Tua paz na minha face. Mas lutamos contra esta entrega completa e gratuita que nos exige libertarmo-nos de tudo para que sejamos inteiramente livres em Ti. E tantas são as vezes que lágrimas que deixo rolar me contam a história de uma batalha em que tantas vezes pareço perder. Quero meu Deus, renascer em Ti. Quero meu Deus, em cada momento, promover as minhas limitações no teu amor. Para te acolher da minha forma mais pura, ajuda-me a saber despir-me de tudo o que tenho preconcebido, a libertar-me com inteligência de tudo aquilo que à nossa volta nos apanha e nos força a tomar a sua forma asfixiante que nos impede de correr para abraçar. A tua voz Senhor, grita-me e seduz-me. Ajudas-me sempre de novo a sentir o que o vento me segreda e diz? Como se de cima da montanha mais alta e com os braços abertos me sentisse todo eu envolto por Ti nesta casa em que nos acolhes, e as estrelas rodassem no céu bailando ao sabor das nossas conversas entusiasmadas em que acabas sempre por dizer que me Amas. É que lutamos tanto com medo do desconhecido. Tememos uma entrega sem limites achando que nos pode vir a magoar. Tememos perder as forças porque lutamos tantas vezes pensando que são as nossas que usamos e esquecemo-nos da Tua. A Ti, Senhor, ajuda-me a dizer o meu sim em cada momento. Beberei do mesmo cálice de amor. Deixarei libertar esta paixão e esvaziar-me completamente de mim, por uma só Fé, para que possa sentir que mesmo na simplicidade é possível sermos um só em ti. Não quero ser mais só eu neste mundo que nos deste para habitar. Quero ser eu junto de cada um que nos rodeia. Deixar todas estas máscaras e seguir a Tua vontade. Por Ti. A cada instante…

sexta-feira, novembro 06, 2009

Teremos de perder tudo…

…Coubessem todos os meus pensamentos no universo para que tivesse espaço para os ordenar carinhosamente. Gostava de poder partilha-los todos para que talvez um sábio, ao passar por mim, os conseguisse ler e me ajudasse a olha-los. É tão difícil, tantas vezes, termos de ser nós a fazer todas as nossas escolhas. Como poderei olhar para o futuro e escolher, se não compreendo ainda sequer a profundidade de cada gesto? Olho-O nos olhos, como se não existisse mais nada em nosso redor se não o fundo preto do céu preenchido com os seus pontos brilhantes de luz cintilante. De que forma concreta devo seguir este caminho? Perder tudo faz-nos sofrer. É este lado humano profundamente enraizado que temos em nós e que não nos larga. Magoa-nos como se tivéssemos cravado o peso do que nos limita. Pudesse eu todos os dias olhar o mundo apenas com os olhos inundados de Amor, sem sequer a mais pequena dúvida me invadir e inquietar…