domingo, julho 26, 2009

Olhando-te nos olhos…

…Grandes, brilhantes e expressivos. Concentrados neles vemos a profundidade do azul do mar. Ao mesmo tempo transportam a alegria que acompanhas com o teu sorriso espontâneo e rasgado, e o pesar de uma vida que não tem sempre apenas dias em que o horizonte nos espreita pela janela. Estavas bonita. Aliás, foi as primeiras coisas que te disse, olhando-te nos olhos. A tua expressão transmitia a saudade doce que guardavas no teu coração. De novo, no mistério do espaço celeste, os nossos caminhos voltaram a cruzar-se, voltámos a poder encontrarmo-nos no mesmo espaço físico, como se tivesse sido Ele a conceder-nos esse privilégio nos Seus planos. Connosco estavam também as pessoas que nos unem, que preenchem as nossas histórias e partilhas. E fomos celebra-Lo cantando e comungando...

…Foram novos os momentos em que o soar das entranhas da terra se fez sentir. Aqueles instantes em que ela comunica e se junta ao céu. E sem precisarmos de falar, trocamos um olhar de entendimento, um sorriso que nos diz que ambos temos uma só missão no mundo: olhar com os olhos de quem ama. Por isso rezas o que sinto, por isso me reencontro na tua oração, nas lágrimas que dizes que os sentimentos te fazem rolar e que sinto, sem mesmo as ver rolando redondas pela tua face. A ti sempre te encontrei de uma só forma: iluminada por uma luz qualquer que reflectes. E estás presente mesmo quando não nos vemos, como a Lua…

sexta-feira, julho 24, 2009

Os cães, os gatos, e a porta aberta…

…O sorriso, o céu, o sol redondo e forte, o calor, e os pés descalços que ficam empoeirados. Tu vens com a tua saia solta, com o lenço que usas para te apanhar o cabelo, com aquela camisola de alças de gostas de vestir porque é mais fresca. Trazes uma bolsa com montes daquelas coisas que só tu sabes manusear com tanto encanto. Um caderno de notas, um lápis e uma caneta colorida, um postal em branco que num instante consegues encher do sentido da paisagem que nos circunda. Sei que enjoas, mas és como os barcos no mar que têm o seu mastro movendo-se harmoniosamente ao ritmo de cada brisa fresca. A sensibilidade, o carinho, a gargalhada, um corneto de morango e um livro com areia enrolado num pano. No meu carro, tenho caído um pincel velho que não sabes por onde anda. E chegamos abraçados àquela casa de praia iluminada que deixamos de porta aberta. É que lá fora voam os pássaros, correm os cães, se vêem gatos a andar pelo cimo de murros estreitos e a descansar nos telhados. O horizonte estende-se lá à frente e é eternamente longo. De repente, mais uma música na rádio que nos faz dançar, e quando passas encostas-me nas costas o copo gelado da bebida que foste servir. Eu sorrio-te e passo-te a mão pela barriga. Passaram dias, passaram anos e sinto este momento eterno. A única coisa que devemos são dois ovos ao vizinho que ontem fomos pedir para fazer dois ovos estrelados, um com sal e outro sem, e que comemos com uma fatia de pão enquanto desembrulhavas a tela e a metias em cima do cavalete. Começaste desenhar a foto que tinhas encontrado na revista da semana passada em que uma velhinha desdentada dava a mão a um menino de chapéu posto com a pala virada para trás. Olhei para trás, tínhamos um melro pousado na janela…

terça-feira, julho 14, 2009

ICTUS…

“Então veio uma corrente mais forte que o fazia descer. O peixe tentou lutar contra ela com quantas forças tinha, à medida que via distanciarem-se as coisas da superfície. Talvez para sempre… Mas depois fechou os olhos, confiou e já sem medo deixou-se ir.”

(Nuno Tovar de Lemos)

…E será sempre este o final da história!…

domingo, julho 12, 2009

Por trás da pequena porta…

…Rio-me repetidas vezes. Começo a achar mesmo que sou louco. À minha frente estendia-se o enorme cenário que me fez ficar boquiaberto. Ilimitado, permanente, perfeito. Como se naquele instante se tivesse revelado toda a beleza daquilo que sempre esteve tão perto e que, na realidade, contemplava sem que nunca tivesse de facto conseguido ver. Continuo a rir-me com a excitação. Sabem, é que encontrei hoje um tesouro! No momento em que subi até ao ponto mais alto, movido pela sensação de ser ali que o poderia encontrar, vi, de repente e quase que desprotegido, a pequena porta que ficava acima do nível da minha cabeça. Estiquei-me e, em picos dos pés, alcancei a maçaneta. Concentrei-me e, muito lentamente, rodei-a para que não fosse o barulho a quebrar a magia daquele instante. E como se fosse eu a chave para a abrir, a pequena porta deixou trespassar o primeiro raio de luz que me iluminou. Na parede estavam dois degraus de ferro que me permitiram subir e um terceiro vertical que me permitiu apoiar. E foi assim que ao passar pela porta o encontrei. Fiquei parado. Não me lembro se naquele momento ouvia mais o meu coração ou o meu respirar fundo. Estava mesmo ali à minha frente, depois de todas as vezes em que o tinha sonhado ver. Depois de viver cada dia por ele agradecido, estava ali, ele em mim e eu nele. Será que num só? Olhei em volta e apercebi-me das coisas que me eram familiares e daquelas que via agora ainda mais claras e perfeitas. Foi indescritível a emoção. Afinal, mesmo junto a mim, permanecia o local de refúgio que sempre desejei ter. Naquele local onde apenas eu poderia estar inseguro, mas onde deixei que a perfeição envolvente me protegesse. É incrível. Continuo a rir. Estava ali à minha frente, do nada, mas por um caminho certo, cada pedaço de um sonho. O mais curioso, foi que soube no mesmo instante que deveria regressar. O meu lugar não era ainda ali. Assim, procurei ficar apenas este instante eterno a contempla-lo. Voltei a dirigir-me para a pequena porta, desci os degraus de ferro e voltei fecha-la lentamente, de novo tentando não fazer o mais pequeno barulho. Apenas uma coisa mudou. Fui eu. Tenho em mim a visão mais bonita que guardarei até um outro dia em que poderei lá voltar quando for menos nítida para mim. E de cada vez que lá for, ficarei apenas o tempo que demora esboçar um sorriso profundo. De cada vez saberei olhar apenas com amor e voltarei a surpreender-me com cada pormenor. Neste momento, é lá que me sinto quando me rio. Continua toda aquela paisagem à minha frente. Continuo eu e ela envoltos, continua o vento que se fazia sentir, continua a sensação de ser apenas um pequeno ser cheio de milhões de desígnios. Sabem, o que me faz rir, é no fundo, o alcance real da plenitude. Ela está nestes momentos. Está em mim, está em ti, está atrás destas pequenas portas. Eu encontrei aquela que eu consigo abrir e continuo a rir. Sou louco, ou sou amado. Uma coisa é certa, sei que tenho comigo toda a felicidade do mundo. E os pássaros continuam a voar livres e despreocupados…

sexta-feira, julho 10, 2009

Lar…

“- Sempre pensei que moravas no céu e que por isso o céu era tão grande. Sabes, às vezes ficava horas e horas sem fim a olhar a imensidão das estrelas e a pensar em Ti.

- Eu sei. Eu vi-te quando te comoveste, encostado à figueira, a olhar o céu. Fiquei com vontade de te contar tudo, sobretudo de te dizer isto: O universo não é a minha casa. É a tua. É a casa que Eu criei para ti e para todos os homens. Sabes, às vezes os pais montam casas para os filhos…”

(Nuno Tovar de Lemos)

sábado, julho 04, 2009

Eu?…

…Pequeno, limitado, por vezes incompleto, mas acima de tudo, amado. Vivo cheio de vontade e de sonhos, cheio de uma força que me faz encher de sentido cada pormenor em meu redor. Limita-me em alguns momentos a necessidade do reconhecimento, o desejo de um sorriso recebido, o tender a tomar as rédeas das pequenas coisas que devem ser deixadas apenas soltas nas mãos acolhedoras de Deus. É algo que tantas vezes confundimos com a ousadia de Ser e de fazer por Ele, mas que a cada dia nos devemos esforçar por esclarecer. Impedem-me os desejos que me afastam da Sua vontade, os que são do meu lado humano, menos divino…

…Cresço, deixo-me moldar, e é em oração que me procuro conhecer profundamente. Tenho um coração de ouro que tantas vezes não se consegue exprimir. Sei do meu maior projecto, o que me faz chegar a todos os espaços do universo: amar. Cresço, e ao crescer procuro dar à minha vida a coerência de valores e gestos que não me façam ter nunca a vergonha de torna-la a cada momento limpa e transparente. Dia após dia, aprendo também a aceitar as consequências, a gerir as minhas maiores dificuldades. Escolho para mim não o mais fácil, mas o que me completa, o que no meu ver, O permitiria, com confiança, saber que até poderia por instantes deixar de me olhar…

…Vivo como se fosse eu a continuidade de todos quantos me amam. Como se em cada movimento os transportasse comigo, como se em cada um os eternizasse num sorriso. O sentido da minha vida torna-se a entrega, mesmo nos momentos em que tenho de Lhe dizer que preciso de um pouco de tempo para mim. Eleva-me a Deus e sou por Ele em cada olhar profundo a que me entrego…

…Inevitavelmente, por vezes, incomodam-me as minhas limitações, angustiam-me os meus pecados. Assusto-me quando deles me apercebo, perturbam-me. Mas temos também de aprender a aceita-los, reconhecendo-os, e a não lhes darmos mais valor do que às graças que recebemos. Acredito que é importante ousarmos construir um caminho de santidade que parte da imperfeição…

…Quero olhar para mim e ver então a minha vida num todo. Pois até as peças que o oleiro constrói e que saem defeituosas, quando expostas, têm mais tarde o valor de adquirirem um sentido. Sorrio-me como quem sorri para alguém que ama, mesmo depois de o ver fazer um disparate, e o chama para o abraçar. Não me sinto só, porque sinto algo gritar-me baixinho que só Tu bastas. Sei que, aceitando-me, poderei andar com o Seu sorriso invadindo quem me rodeia da liberdade e da calma que compõem…

…O que me meteria medo, seria não ter mais quem amar. Seria não poder expressa-lo, seria interromper este todo que Ele carinhosamente me oferece. Sorrirei profundamente a cada instante e eternamente no dia em que O olhar face a face…