…Deixamo-nos ir como num barco que navega.
Umas vezes mais rápido e apresado,
sedento da rota certa que o levará a grandes feitos e descobertas;
outras, ao sabor da corrente,
entregue à ondulação e ao azul que se estende profundo.
Esforçados, procuramos avistar terra,
e tantas vezes nos esquecemos de toda a beleza que temos em nosso redor.
Umas vezes assusta-nos o azul nocturno do mar;
outras, maravilhamo-nos com a infinidade de pontos brilhantes que preenchem
o mesmo azul nocturno do céu.
Vivemos os sentimentos num turbilhão que nos desorienta:
amamos, esquecendo-nos de conferir liberdade;
conferimos liberdade e esquecemo-nos de amar.
Temos tantas vezes medo de criar laços,
temos tantas vezes medo de ter de suportar.
Incomoda-nos o sal que na água nos facilita nadar
e questionamo-nos sobre o porquê de podermos optar.
Uns confiamos no vento que nos conduz,
outros duvidam que ao sabor do vento possam chegar a algum lugar…
…Empoleiro-me na proa do barco,
completa-me a brisa que me bate na cara.
O cabelo despenteia-se e procuro prende-lo com a mão.
Sinto-me observado, acompanhado, amado.
Acredito que basta o estar ali,
basta o poder abrigar todos no pequeno barco também,
que juntos continuemos a querer mantê-lo e cuida-lo.
Conquistaremos novas rotas e implementaremos;
lutaremos e continuaremos a sonhar,
mas esqueceremos a pressa que nos cega.
De noite, deixaremos apenas uma luz no barco:
aquela mesma que nos fará reunir todos em redor,
que nos fará dar as mãos e saborear o balanço que nos revela imersos na imensidão.
Saberemos que é mais importante tudo sentir do que tudo saber;
sentiremos que poderemos viver em plenitude;
descobriremos o que é saborear a paz.
Aquela paz de espírito que nos iguala a quem nos rodeia num abraço eterno,
que fará que um dia todos caibamos juntos no pequeno barco.
No mar inteiro, rodeados do azul e dos contornos de terra que nos moldam,
Seremos um…