sexta-feira, maio 25, 2007

A preto e branco…


…Depois de um dia quente de Verão, na ilha Azul, sem que me saíssem da cabeça todas aquelas aventuras que lá vivemos e que nos fizeram tanto sorrir, como que em gesto de agradecimento por aquele sentimento eterno que nos enche e torna livres e leves, que nos faz emocionar e dessa forma entregar e render à amizade, fechei os olhos para tentar saborear melhor tudo o resto. O barulho das ondas naquela praia onde o sol ao pôr-se se reflecte prateado no mar e nos permite distinguir apenas silhuetas pretas entregues ao horizonte; a actividade das cagarras agitadas a caçar, gritando da sua forma tão peculiar; o calor da areia preta e da montanha que ao emanar nos aquece, enquanto a aragem se torna fresca e nos traz a lua enorme que se ergue mesmo por trás de nós…

…Com a calma e a atenção necessárias, comigo, um ano depois, juntou-se toda a Natureza e juntaram-se todas as recordações. Misturadas com as ondas, as aves e as sensações, ouvia e sentia as nossas brincadeiras e jogos, as nossas conversas e emoções, tantas vezes partilhadas naquele espaço a que tantas vezes me reporto. Naquele momento, para mim, estávamos de novo juntos, os três, naquele local que nos uniu para sempre…

…De olhos fechados, com o cabelo solto e sentindo o vento na cara, sentado na areia na posição mais confortável que encontrei e com o coração leve, misturei as cores do fim do dia com o preto e branco doce e intemporal das recordações. Os refúgios que fomos nós a colorir…


(Desenhado a lápis de carvão pela minha mãe)

quarta-feira, maio 23, 2007

Como algo que nunca pára de girar…

…Como algo que nunca pára de girar,
E contra o meu desejo quase incessante;
Como se fosse eu apenas um espectador,
E enquanto em silêncio te fito,
Parece-me encontrar em ti sempre dois lados.
No dia a dia, nas atitudes ou nas escolhas,
Dois lados que se reúnem num só,
Que assumes simultaneamente como teus
E que te permitem ambos ser livre e sorrir.
Embora distantes,
Pulas de um para o outro
E em qualquer deles te vejo a bailar,
Te vejo amizar,
Encontro-te com um brilho no olhar.
Mas como se de um feitiço se tratassem,
Como se fosse algo escrito ou que não pudesse acontecer,
Parecem, num descompasso, não encaixar ambos em mim.
Ao mesmo tempo aproximam-nos e afastam-nos.
Um, aperta-me o coração de saudades,
Outro, faz-me valorizar a distância.
Envoltos num deles,
De mãos dadas,
E com o mesmo olhar no horizonte infinito e azul,
Completamo-nos.
Identificamo-nos.
Encontramo-nos nessa bolha nossa que nos leva a voar,
Que nos apresenta o mundo

Em que Acreditamos e temos Fé,
E onde com pequenos nadas originamos e propagamos sorrisos.
Em que nos entreolhamos com um olhar transparente e limpo
E lemos os pensamentos, agendamos conversas,
E tornamos eternos os segundos.
Aquele lugar onde o beijo nunca acaba,
Onde o toque e os cheiros nos elevam
E em que nunca acaba o verbo amar.
No outro, nesse outro lado, perco-me.
Perco-te.
Encontro em ti aquilo que acho que não queres ser,
Aquilo que penso que te fragiliza,
Mas que abraças.
De repente, o toque parece ríspido.
As palavras ficam mais frias.
Os sentimentos transformam-se em interjeições
E no coração, se bem que lá esteja, não identifico
Não reconheço,
Aquilo que para mim te torna na pessoa mais bonita do mundo,
Apesar de trazeres o mesmo sorriso.
Nessas alturas, conformo-me e aceito.
Sei que tudo o que era já foi.
Sei que irá ficar para sempre apenas aquilo que pode ficar
E que o restante guardaremos apenas os dois.
Da forma como guardas também os teus dois lados.
Até que de novo encontro o teu olhar profundo,

Como algo que nunca pára de girar …

segunda-feira, maio 21, 2007

Gosto…

...Há tantas coisas de que gosto tanto e que me fazem tão feliz.
Gosto de escrever para reflectir,
Gosto de sair muito tarde ou muito cedo do trabalho,
Gosto de ver luzes a iluminar a areia à noite
E gosto de chegar a casa e dizer BU!

Gosto de fazer filmes com os miúdos da catequese
Gosto de apanha-los no ar quando vêm a correr para mim
E gosto de brincar com eles para vê-los sorrir.

Gosto de almoçar em casa dos meus amigos,
De ficar a conversar sobre experiências de vida e aventuras
E de oferecer prendas de que sei que vão gostar.
Gosto muito de dar os parabéns a quem merece,
De escrever mensagens no telemóvel com muitos caracteres
E também de ajudar a preparar festas de arromba.

Gosto de comer montes de aperitivos antes das refeições
E de acompanhar quem gosto em tudo o que quiser fazer.
Gosto de beber shots e de ter vontade de dançar,
Gosto de brincar e de picar quem merece ser picado
E gosto de amar.

Gosto de ver a minha mãe a pintar
E de planear muitas viagens!
Gosto muito de encontrar amigos quando não estou à espera de os encontrar
Ou de ir ajuda-los a suas casas a aconchegar o lar.
Gosto de pintar paredes, pelos vistos,
E gosto de convidar toda a gente para minha casa
E de festejar golos sem mesmo ligar nenhuma a futebol.

Gosto de correr perto da praia acompanhado e de ver o mar,
E de uma boa música escutar.
Gosto de quando me sensibilizam com coisas diferentes,
E de me despedir sempre com um sorriso grande, com a certeza de que partilhámos um grande dia também.
Gosto tanto desses sonhos que tens “onde tudo é para sempre possível”,

E gosto de saber que tenho sempre mais apontamentos bonitos para guardar…

quinta-feira, maio 17, 2007

Mensageiros…

“Aquele que dá a sua vida aos outros
Terá sempre o Senhor”

…De repente, entre o aglomerado de sentimentos bons que já pareciam tomar forma em mim, depois daquele contacto rápido, olhei para cima, agradeci-Lhe, e senti uma enorme felicidade e um arrepio que me percorreu todo o corpo. Vestida daquela forma simples, com a sua voz suave, naquele que era o momento central de toda a celebração e em que se ouvia apenas o coro cantar, foi para mim como imagino serem os anjos que voam mais rente ao solo para nos fazer, tantas vezes, arder o coração. Sem sequer a conhecer: um mensageiro. Um calor bom e doce que surge para nos renovar e para nos encher a alma. Num daqueles momentos que transformamos num sinal, que nos motiva e direcciona…

…Naquele instante em que, de certa forma, resumo toda a atmosfera em que nos conseguimos envolver naquela comemoração, foi como se o inspirar fundo me trouxesse tudo aquilo de que ainda precisava. Como resultado da nossa comunhão, nascido unicamente do sentimento mútuo e do olhar, o conforto final. O sentimento partilhado que fez com que tudo tenha corrido tão bem. A gratificação, o agradecimento e o reconhecimento que não é pronunciado, mas que se sente com o coração. Aquele sentimento que inflama, que é muito maior do que qualquer um que se possa expressar ou materializar…

…Esta parte do refrão foi escrita para ti, disse…

…Foi como tivesse sido confirmado todo o Sentido, como se O visse a sorrir fitando-me nos olhos também. Era essa igualmente a origem do meu sorriso de orelha a orelha. Esboçava-o porque O sentia, como neste momento O sinto. E apenas com o esforço relativo de quem ama, sem um instante físico mensurável que o delimite, naquela fracção de tempo que durará para sempre, foi como se de facto já tivesse sido feita a diferença. Como se já tivesse valido a pena. Como se o coração daquelas 44 crianças e de alguns dos seus pais, já tivesse sido para sempre marcado por sentir presente Jesus nos seus corações, e eu recebesse o relatório a confirmar. Como se, mais uma vez, nos tivéssemos tornado harmonia, comunidade e aliança. Neste compromisso que nos relaciona, que nos torna mutuamente importantes, em que todos nos encontramos unidos…

…Senti aquele momento como se naquele instante o meu arrepio fosse o teu arrepio também. Senti-o, porque ela o sentiu, porque o sentiram decerto aqueles olhinhos pequenos, brilhantes e felizes que eram naquela manhã todos aqueles meninos que por vontade própria ali estavam. Por sentirem connosco, que lhes procuramos dar testemunho, vontade de se exprimirem, vontade de abraçar e de brincar, vontade de crescerem nos dias de hoje marcando a diferença como também Ele marcou…

…Foi enquanto cantava também, como quem reza, na altura em que, depois de comungarem pela sua primeira vez, se ajoelhavam perante Ele e, como pequenos grãos de trigo, se união e Lhe davam a mão…

quarta-feira, maio 16, 2007

Para ser mais de dentro para fora…

…Nos dias em que andamos já mais cansados por andar sempre a correr, mesmo que entre tudo aquilo que planeamos com tanto gosto fazer, parece permanecer indefinidamente no amanhã aquele momento de silêncio com que nos queremos também premiar. Por mais que sejam os sorrisos e por mais que se mantenham sinceros, sentimos falta daquela pausa que nos ajuda a ser mais de dentro para fora, e que nos permite por breves instantes relembra-los, avalia-los, e, ao serenar, finalmente, aprofunda-los para crescer…

…Quem sabe amanhã não o consigo. Por hoje, tenho outros ainda por esboçar…

sexta-feira, maio 11, 2007

Uns dias em Amesterdão…


…Gostei acima de tudo do conceito, da coerência e da forma que lhe dão a liberdade e a ligeireza. Nas ruas, sempre planas, vêem-se bicicletas passear por todo o lado e as águas dos canais a correr por entre as pontes. As casas, sempre iguais e baixas, por vezes tortas, têm janelas que as trespassam de um lado ao outro, e apenas um ou outro carro vemos pelas estradas passar. Ao sol, sentadas na rua ou na explanada arrumadas, as pessoas, quase todas magras, simpáticas e com ar jovial. E de repente, um eléctrico, e um senhor num urinol público a mijar. Os espaços verdes e os barcos, as túlipas e os patos, as senhoras à janela e outras tantas na rua a passear. Rapidamente, estamos em qualquer local onde nos combinamos encontrar, nesta capital onde aparentemente o stress não se lembrou de ficar...